Opinião: Problemas para a Ordem dos Médicos

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Diogo Cabrita

A Ordem dos Médicos como todas as instituições portuguesas pauta-se por dificuldade em cumprir com o sentido fiscalizador da sua acção. Uma entidade que regule as boas práticas não pode vergar perante um amigo, um colega de curso, um responsável institucional. Esta capacidade de preservar a amizade no momento da frieza da validação e da avaliação é muito anglo-saxónica e pouco mediterrânica.

Tu és muito meu amigo, mas abusas do poder, favoreces os amigos descaradamente, catapultas o teu filho sem vergonha, prejudicas os doentes nas tuas decisões, não cumpres os princípios da lei, não és coerente nas decisões, então eu tenho de ter parar, afrontar e de modo claro opor-me. Os americanos aplicaram algo semelhante a Dominique Strauss-Kahn

A Ordem dos Médicos nunca cumpre com a fiscalização. Com medo de afrontar poderes a mesma Ordem deixou por realizar desde 1997 a tabela de procedimentos e manteve os preços. Nasceram novas técnicas, fizeram-se outras operações mas tudo está como em 1997. Se depender da Ordem não mudará nunca mais. A tabela dos K é uma afronta aos que pagamos quotas da agremiação.

O exame do Harrison (para escolha das especialidades) perpetuado durante décadas é outra afronta a todos nós. Escalonar por um exercício de decorar e de trabalho de memória uma profissão que depende da capacidade analítica e de sensibilidade é desde logo um drama. Manter os mesmos capítulos onde mal se encontram as maiores patologias nacionais (as mais prevalentes – as que enfrentarão pela vida fora) Mas se depender da Ordem será para ficar.

Um drama é a função disciplinar da Ordem que demora mais do que os tribunais a explicar o que está certo e o que está errado. Outro drama é existirem personagens infames a fazer relatórios pouco sábios e pouco inteligentes nas avaliações de alguns conflitos. A Ordem dos Médicos e a função disciplinar chega a raiar o anedótico quando concerne conflitos inter pares.

Impedir que Serviços Públicos se tornem quintas de alguns, que permitam contratações de pessoas acima do limite da idade legal, que não formem quem os substitua, que não se apliquem na substituição das competências e das habilidades e saberes. Se depender da Ordem não se toque porque queima.

A Ordem não é uma entidade sindical mas jamais deveria ter permitido horas extraordinárias com valores diferentes para carreiras iguais. Jamais deveria ter permitido salários diferentes para funções iguais. Mas dava jeito o silêncio e permitiu-se tudo sobre a classe.

Como a relação da Ordem com a Educação Médica pré graduada. As licenciaturas por todo o lado e com muitos que não investigam, não produzem trabalhos, não ensinam técnicas e habilidades. Produzimos médicos sem pratica anatómica em cadáver, com péssima experiência em técnicas invasivas, sem exposição real à doença e aos doentes. Faculdades velhas, sem chama, sem brilho, com gente de pouca visão. A Ordem cala-se porque nela estão muitos dos que representam todo este status.

A Ordem tem para resolver de modo muito premente

1- a questão dos valores das seguradoras ao trabalho médico – uma vergonha.

2- a proletarização do trabalho médico,

3- as definições de exclusividade e não exclusividade,

4- as fronteiras profissionais da saúde e dos seus muitos parceiros, incluindo os gestos alternativos não médicos, não terapêuticos portanto

5- o juramento de Hipócrates e as questões da bioética, da vida, dos limites à liberdade quando concerne ao corpo (tatuagens em menores, definição de idade pediátrica, mudança de sexo em adolescentes, eutanásia, internamentos compulsivos, etc)

6- a formação em patologia prevalente e comum,

7- Numerus clausus ou não?

8- Voto obrigatório para a Ordem. Há muitas coisas a referendar ou a decidir.

Vamos ver se temos coragem de mudar alguma coisa.

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