Ricardo Castanheira

Não devemos nunca temer errar e menos ainda reconhecer que errámos. Eu errei. Há pouco mais de um ano equivoquei-me na avaliação do perfil presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Confesso, que, hoje, sinto-me profusamente acompanhado por tantos outros. Isso mitiga a culpa…
É verdade que Marcelo, o candidato, navegou com invulgar habilidade tática o cenário eleitoral e driblou uma esquerda amplamente dividida e uma direita quase orfã. Mas também não é menos verdade que Marcelo, o Presidente, inaugurou com mérito inquestionável um novo ciclo em Belém.
Nunca a humanização da função presidencial fora tão importante. Anos de crise somados à austera figura de Cavaco configuravam o contexto ideal. Marcelo resgatou aos melhores dias de Soares a relação de proximidade com as pessoas e passou a ser intepretado como um entre iguais. Marcelo ganhou o coração dos portugueses; deu-lhes um conforto emocional e fá-lo com toda a naturalidade. Isso não é coisa pouca.
Mas a verdade é que – e apesar de “a procissão ainda ir no adro” – Marcelo tem uma visão diferenciada dos poderes constitucionais. Tal como Soares, esgota a função sempre que possível. Tem sido um aliado imparável do Governo nas relações externas e, em especial, com as comunidades portuguesas. Puxa pela auto-estima nacional e acompanha o otimismo de Costa. Marcelo percebe a relevância extrema da estabilidade política no momento atual e tem-se esforçado por garantir a preservação da mesma.
Ao contrário do que muitos há um ano poderiam antever, o maior problema de Marcelo não foi a “Geringonça” nem a coabitação com António Costa, mas antes a sua própria família política. O PSD – errático, imprevisível e incoerente – causará as maiores dores de cabeça encostando sempre que possível Marcelo à parede e querendo que este assuma ónus que não são seus.
É nessa hora que o Presidente do coração tem que mostrar ser também o da razão. E, convenhamos, a tarefa é bem mais difícil e exigente. Mas é nesta hora que o estratega dotado de invulgar inteligência e sagacidade política tem de aparecer. A bem da Nação!