Inês Rosendo
No início de um novo ano, queria deixar logo nas primeiras linhas deste livro em branco algumas intenções para os cuidados de saúde primários do futuro. Pode ser que traga alguma sorte e bastante bom senso a quem faz decisões em saúde e que possa levar a um recomeço mais positivo para a saúde dos portugueses.
Porque me parece que um bom objetivo para este ano poderia ser melhorar a qualidade da saúde, que tem sido tão negligenciada nos últimos anos. E isso não é possível sem começar pelos cuidados de saúde primários. E de uma vez por todas perceber que não basta dizer que se investe neles mas que é preciso efetivamente criar condições para as equipas dos cuidados primários possam trabalhar e não tenham de enviar as pessoas para os hospitais sobrecarregados só porque não têm material nem tempo nem sistemas informáticos capazes nem colegas disponíveis para falar nem processos administrativos organizados.
Isto tudo para se evitar perdas de tempo desnecessárias das pessoas que só precisavam de saúde mas que em vez disso andam de porta em porta à espera que alguém tenha compaixão e ajude a resolver os seus problemas.
Não seria muito difícil ou dispendioso ter material básico nos centros de saúde para evitar o envio de tantas pessoas aos hospitais fazer avaliações ou tratamentos simples. Nem ter material informático com qualidade suficiente para ganhar tempo e poder ver mais pessoas e menos janelas e ampulhetas luminosas a piscar.
Nem programas informáticos que ajudassem em vez de complicarem os processos administrativos. Nem processos administrativos simplificados para não se perder tempo de promoção de saúde com promoção de “papeladas” que ocupam tantas consultas em centros de saúde. Muito importante seria apostar na diminuição do número de utentes por médico e enfermeiro de família (e secretário clínico também) para eles poderem ter tempo para dar saúde e evitar doenças.
Assim teriam tempo para, por exemplo, usar o telefone ou e-mail para comunicar com os utentes e colegas hospitalares e evitariam deslocações desnecessárias, teriam tempo para ver todas as situações de doença aguda evitando idas a urgências desnecessárias onde outras doenças mais facilmente se contraem, teriam tempo para fazer avaliações preventivas de saúde e aconselhar e capacitar as pessoas da melhor forma para prevenir doenças e para saberem atuar em caso de doença sem ter de recorrer sempre aos serviços de saúde, teriam tempo para se dedicarem a situações mais complexas e articular com outros profissionais em verdadeiras reuniões multidisciplinares casos de pessoas que precisam de muito mais do que receitas e exames passados “à pressa”.
A satisfação que traria poder trabalhar com melhores condições e ver os esforços canalisados para melhoria da saúde das pessoas, motivaria os profissionais que trabalhariam ainda mais e melhor e faria cada vez mais e melhores profissionais optarem por esta carreira tão importante e ainda faria decrescer o número de médicos de família já formados, que desistem de o ser nestas terras portuguesas.
Portanto, é preciso fazer pontes entre as equipas que tentam prestar os melhores cuidados possíveis, quem luta por estes ideais e quem faz decisões em saúde, porque as soluções não são difíceis mas é preciso investir nelas e não se ficar pelas intenções. E esta é a intenção da equipa da Ordem dos Médicos do Centro que se renova agora, no que concerne os cuidados de saúde primários como pilar da melhoria da qualidade na saúde.
E estas pontes não se conseguem fazer sem o contributo de cada um dos profissionais que estão no terreno com quem esperamos contar para poder ter uma voz mais forte, consistente e efetiva. Caros colegas, aguardamos as vossas sugestões e participação ativa na busca deste ideal, pelos cuidados de saúde primários, que podem ser uma base efetivamente mais sólida para uma saúde melhor.
E por isso pertenço a esta equipa “Ser Médico Hoje – a Ordem na defesa dos Médicos, dos Doentes e da Saúde” para umas eleições em que se renova em parte e se reforça e que conta com o vosso voto e apoio para se manter na luta por estes ideais com redobrada dinâmica e motivação.
