Opinião: História e Pedagogia

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Pedro Mota Curto

Em novembro, decorreu na Figueira da Foz um Seminário Internacional subordinado ao tema, “Olhares e Reflexões sobre o Holocausto: Histórias e Memórias de Refugiados”, numa organização da Memoshoá (Portugal) e da Yad Vashem (Jerusalém).

No painel de oradores incluía-se Haya Feldman, vinda expressamente de Israel. Natural de Buenos Aires, reside atualmente em Jerusalém, exercendo funções na Escola Internacional para o Estudo do Holocausto. Na sua intervenção, sobre o mundo depois de Auschwitz, salientou a necessidade de excluir quaisquer sentimentos de vingança, propondo e incentivando a criação de um mundo melhor, combatendo a ignorância e a intolerância.

A historiadora Irene Pimentel recordou a ascensão do nazismo até aos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial. O austríaco Adolfo Hitler fora nomeado primeiro-ministro da Alemanha em 1933. Tal como hoje, uma parte do povo detinha grandes esperanças em soluções políticas mais radicais. Em Portugal, havia um Estado Novo, onde, a Bem da Nação, se davam “uns safanões a tempo” em alguns portugueses menos afoitos a Salazar.

A entrada de judeus em Portugal foi relativamente reduzida, comparativamente com outros países e deveu-se em grande parte à ação de Aristides Sousa Mendes. Os que não tinham partida assegurada para o continente americano, eram colocados e vigiados pela PVDE, na Figueira da Foz, Caldas da Rainha, Ericeira, Curia, entre outros locais.

Neste Seminário esteve igualmente presente um dos 39 netos de Aristides Sousa Mendes (um dos seus 140 descendentes diretos). Aristides Manuel de Alpoim de Sousa Mendes é um dos 11 filhos de Clotilde, filha mais velha de Aristides Sousa Mendes. Nasceu na Figueira da Foz em 1947, engenheiro eletrotécnico, trabalhou 5 anos na Soporcel (Navigator Company).
Salazar e Aristides eram da Beira Alta.

Ambos estudaram Direito em Coimbra. O irmão gémeo de Aristides foi Ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar. Aristides nunca pensou que o castigo que lhe foi imposto por Salazar pudesse ser tão severo.

Neste Seminário, foi também abordada uma questão desconhecida do público em geral. Nos anos 30 do século XX, organizações judaicas internacionais solicitaram autorização a Salazar para que a comunidade da diáspora judaica se instalasse na zona de Benguela (Angola), onde poderiam desenvolver aqueles territórios.

Salazar, temendo a dinâmica e o poder (económico e cultural) dos judeus, recusou. Tivesse a sua decisão sido outra e talvez Israel não tivesse sido criado em 1947, na Palestina. Talvez a história do médio oriente, nos últimos 70 anos, tivesse sido diferente.

Nos finais do século XV, D. Manuel expulsou os judeus de Portugal, privando o país (nos séculos seguintes) dos seus imensos recursos económicos e científicos. Duas decisões polémicas de dois dirigentes nacionais com grandes responsabilidades. Duas decisões que poderiam ter dado um rumo diferente a este retângulo. É certo que a História não se repete, no entanto, a sua vertente pedagógica nem sempre é convenientemente aproveitada.

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