Opinião: Há cem anos havia comboio de Coimbra à Lousã

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Francisco Queirós

Comemoram-se 100 anos! A 16 de Dezembro de 1906 foi inaugurado o primeiro troço do Ramal Ferroviário da Lousã, ligando Coimbra a esta vila.

Quase um quarto de século depois, a 10 de Agosto de 1930, foi inaugurado o troço de 6 Km que ligaria a Lousã a Serpins. Durante nove décadas, esta ligação ferroviária foi essencial para a vida económica, cultural e social de uma vasta zona do distrito de Coimbra.

Hoje, cem anos volvidos não só não há ligação ferroviária, arrancados que foram os carris, nem a alternativa anunciada e que já sorveu milhões de euros.

A Sociedade Metro do Mondego foi fundada em 1996. Há uma década atrás era anunciada como a nova solução de mobilidade para a cidade de Coimbra e para as populações até então servidas pelo Ramal Ferroviário da Lousã.

O projecto de construção e exploração de uma linha de metro ligeiro de superfície no espaço do Ramal da Lousã teria uma extensão de 41,9 km e um total de 43 estações. A história do “metro” é longa e triste. O projecto de “metro” seria alterado em 2006, prevendo-se então a sua divisão em duas fases.

A primeira, com a remodelação e electrificação do Ramal da Lousã, de Coimbra B a Serpins, com aquisição de veículos de metro ligeiro de superfície do tipo “tram-train”. A segunda fase previa a construção da Linha do Hospital, em inserção urbana, com ligação à outra, unindo a baixa de Coimbra ao Hospital da Universidade (HUC).

A circulação ferroviária no ramal inaugurado a 16 de Dezembro de 1906 cessou no início de 2010, o ramal foi encerrado a 4 de Janeiro de 2010. Os carris foram arrancados. O desmantelamento da linha foi então efusivamente festejado por vários responsáveis políticos, entre os quais os autarcas da Lousã e Miranda do Corvo. A circulação dos passageiros do antigo ramal passou a processar-se por transporte rodoviário alternativo.

Em Novembro de 2010, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento, PEC III, o governo de Sócrates ordenou a supressão dos trabalhos na plataforma da linha, trabalhos de assentamento de carris e construção de catenária. Em 2011, o governo decidiu extinguir a empresa, passando as suas responsabilidades para a REFER. No entanto, novos episódios ocorrem e tal não sucedeu.

Em 2016, cem anos após a chegada do caminho-de-ferro à Lousã, o balanço é negro. Mais de 100 milhões de euros foram gastos em obras ao longo do espaço-canal, que hoje apresentam um elevado grau de degradação. O que ainda resta da obra são taludes em mau estado, a plataforma a ceder e com brechas enormes.

As populações residentes ao longo do ramal foram espoliadas do seu meio de transporte. O centro da cidade de Coimbra foi esventrado à conta da operação metro. Prédios demolidos e prédios devolutos e cada vez mais degradados são a face visível.

O Ramal da Lousã foi destruído em nome de uma alternativa que não existe e que não é a solução para a mobilidade das populações de Coimbra ou das localidades que servia. Cem anos depois da inauguração da linha, exige-se a sua reabertura. A solução do Metro também não faz sentido na área urbana de Coimbra.

A linha urbana preconizada implicaria a ocupação das principais linhas dos SMTUC, sem acréscimos de fiabilidade significativos, apenas representaria um acréscimo de velocidade de cerca de 10 km/h, em percursos de 10 a 20 minutos. O projecto do metro traria vários outros incómodos, obrigando o transbordo em Ceira, aumentando o tempo de transporte e exigindo mais investimento em produção de energia.

Festejar este centenário implica extinguir a Empresa do Metro do Mondego. Canalizar verbas para repor, modernizar e electrificar a linha da Lousã e melhorar os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra. Devolver o património ao domínio público ferroviário e ao domínio municipal. Cem anos depois, é possível prestar um serviço de qualidade às populações de Miranda do Corvo, da Lousã, de Coimbra e da região.

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