Opinião: Contra a ditadura dos números e dos dados estatísticos e financeiros

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Ser médico é, hoje, muito mais do que ter um simples curso ou um emprego. Ser médico é ter a coragem permanente de lutar contra o sofrimento, contra a adversidade, contra a insensibilidade.

Nestes últimos anos, o Ministério da Saúde insistiu, sistematicamente, em mecanizar o exercício da medicina: através da criação da figura do médico-funcionário, das restrições nos tempos de consultas, do controle de atos diagnósticos e terapêuticos, da informatização deficiente e da insuportável e permanente pressão, por vezes muito bem dissimulada, para fazer do exercício da Medicina um exercício contabilístico de um conjunto de números, dados estatísticos e financeiros.

Somaram-se, umas atrás das outras, leis, regras e decisões, com um largo impacto negativo na nossa vida do dia-a-dia e no bem-estar dos nossos doentes.

Desrespeito pela atividade médica, construída com a cumplicidade de governantes e gestores incompetentes, insensíveis e impunes.

Obtiveram uma classe em burnout, numa crescente sensação de sufoco, desmotivação, insegurança e a perspectivar a emigração.

Num estudo recente, levado a cabo na Região Centro, 40,5% dos médicos revelaram altos níveis de exaustão emocional.
Todos os anos, o Ministério da Saúde desperdiça centenas de jovens médicos que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior teima em formar, estoicamente, contra todas as previsões de necessidades em recursos humanos, para as próximas décadas.

Os serviços hospitalares e dos cuidados de saúde primários estão a perder a sua capacidade para formar médicos especialistas sob o olhar desatento e despreocupado do Ministério da Saúde.

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