Opinião: Novembro de 1994 – A margem esquerda

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Diogo Cabrita

Diogo Cabrita

A 21 de Novembro de 1994 no restaurante Gôndola do Sr Albertino em Fala reuniram todas as juntas de Freguesia da Margem esquerda em defesa de uma nova opção para a “cidade de D. Inês” ou o “projecto 3040”.

Não queríamos ver fechar o Hospital dos Covões, queríamos estratégia para a margem esquerda, queríamos equipamentos, urbanização de qualidade, áreas verdes, rotundas se necessário, comércio.

Faltava quase tudo á margem esquerda em 1994 e faltavam protagonistas com excepções como o Coronel Sêco e sua Associação da Margem Esquerda, o Fresco que a doença levou demasiado rápido, o Benigno que se empenhava em Santa Clara, o Vilão que trazia a cor da CDU à contenda. Foi um turbilhão na política de Coimbra onde surgiu o medo de uma nova cidade, porque todos sabiam como tinham estado distraídos com Almalaguês, S. Martinho, Taveiro, Ribeira de Frades, Castelo Viegas, Ameal, Antanhol, Stª Clara, etc.

Em 1994 os equipamentos mais importantes da Margem Esquerda eram a lixeira, o estádio universitário e o arrumo dos autocarros. Chegariam depois o MAC, o Forum, a Praça da canção, as piscinas municipais, os sintéticos nos estádios do Casaence, do Vigor da Mocidade entre outros e agora o convento de S. Francisco. Em 1994 faltava saneamento para todos.

Os privados construíram ainda o Hotel da Quinta das Lágrimas, o Centro Cirúrgico de Coimbra e em boa verdade não fechou, mas quase, o Hospital dos Covões. Um pequeno movimento incendiário, que ameaçou fechar as pontes, cortar a relação com a Câmara e lançar-se para uma independência real foi o motor do desenvolvimento da margem esquerda. Tudo aconteceu em Novembro de 1994, faz agora vinte e três anos.

O som foi organizado com material dos Tédio Boys, a comida do Albertino foi elogiada na imprensa. Fomos uns setenta entre médicos, autarcas, curiosos, incendiários, alérgicos ao anonimato e jornalistas. Para lá desta parte romanceada e feliz, o que conta é o resultado, ficaram amarguras de algumas traições, surpresa de desistências compradas, artigos de jornal injuriosos que me exibiam para conter a hemorragia política.

Presidente da Câmara era então Manuel Machado. Ainda era o escudo, não havia telemóveis, não existia Polis, nem ponte pedonal, nem ponte da saudade. Os dias seguintes foram ferozes na imprensa nacional e local. A margem esquerda foi capa do “público”, destaque no “Expresso”, insultada no “JN”, martirizada nalgumas páginas locais.

A política dos partidos estava em pânico porque o protagonismo era de homens simples que tinham a legitimidade autárquica e perceberam a força daquela unidade mesmo que temporária e com uma farsa de jogadores. Apostávamos forte para perder o naipe mas conseguir mais depois. Conseguiu-se.

Estamos longe de uma Margem esquerda arrumada, desenhada, sobretudo se deixarmos Sta Clara em direcção a Condeixa, ou se sairmos para lá de Ribeira de Frades. As soluções para a EN1 deceparam freguesias e destruíram negócios. Deixar quase desactivar os Covões talvez seja o maior dos erros destes últimos 23 anos, mas não esquecer como poderia ser mais importante o aeroporto, como deveriam ter libertado a marginal toda e deslocado o dormitório dos autocarros.

O Mondego merece ser a cereja da Cidade de Coimbra toda.

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