Opinião: Incrível mundo novo

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Bruno Paixão

Bruno Paixão

Só alguém subitamente acordado de um longo adormecimento ficaria surpreso com as formas como hoje os cidadãos acedem à informação e também perplexo com a quantidade de experiências que temos à disposição, a qualquer hora, em qualquer lugar e em qualquer dispositivo, seja num televisor, no rádio, em folhas de jornal, no computador, num tablet ou smartphone….

Neste universo polarizado por modificações extraordinárias, a vida quotidiana assenta em realidades que não testemunhamos mas em que acreditamos, em notícias que não presenciamos mas a cuja perspetiva tendemos a aderir. Criam-se assim perceções da existência que moldam a nossa forma de vida neste incrível mundo novo.

Aqui, neste novo lugar que desalinha as mais vetustas convicções sociais, a realidade chega-nos filtrada por alguém que a recebeu, interpretou, aconchegou-a às suas perspetivas particulares e depois, num gesto simples assistido por tecnologia tão banal quanto complexa, a difundiu massivamente.

Essas mensagens, sopradas nos ventos da globalização, expandem-se indefinidamente, com adornos massivos que muitas vezes tolhem a razão, cavando fossos sociais entre os informados e os não informados, entre os que estão “on” e os que estão “off”. Por isso, à humanidade deixou de interessar a verdade absoluta, mas sim a versão aceite pela maioria.

O desenvolvimento tecnológico levou já a que os consumidores pudessem em qualquer momento converter-se simultaneamente em produtores e distribuidores de informação. As redes sociais têm o alcance planetário e a sua constelação é composta por anónimos comutados em estrelas que através de uma partilha auguram atingir o epíteto viral.

Esta estupenda e ao mesmo tempo assombrosa liberdade encerra um desafio cívico: discernir aquilo que é o conteúdo jornalístico, assente em regras profissionais, normas estritas, preceitos éticos, e aquilo que é o conteúdo produzido por um qualquer cidadão, sem tratamento editorial nem preparação jornalística.

É na confusão que reside o âmago da questão. Admito que este distúrbio seja agravado pela atitude sensacionalista de alguns media, que flutuam no campo noticioso algures entre a informação e o entretenimento, entre os factos e o enredo vendável. E assim é difícil distinguir a informação produzida por jornalistas daquela que surge encapotada por outros propagadores internéticos.

Cabe à comunidade científica, à universidade e à entidade reguladora da comunicação social monitorizar e encontrar uma plataforma de atributos qualificadores que indiquem aos cidadãos quem é quem na informação, e o que cada estrato faz com a liberdade que lhes assiste.

Isto porque caminhamos vertiginosamente para a encruzilhada em que as vias largas da comunicação são perpassadas por jornalistas honestos e outros desonestos, bloggers, gente escondida sob perfis anónimos em redes sociais, lançadores compulsivos de boatos, digitadores de meias verdades convenientes, dissimuladores de intrigas, vendedores da banha da cobra, arautos da desgraça e hedonistas tão criativos que às vezes se tornam chatos. Como em tudo na vida, em todos eles encontraremos os bons e os maus. É algures no meio disto que deambula a verdade.

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