Opinião : “M’espanto às vezes, outras m’avergonho” 1

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Norberto Pires

Joaquim Norberto Pires

Coimbra, desassoreamento do Mondego: Ainda se lembram das duas enormes cheias do inverno de 2015, nas quais o Mondego galgou margens – reclamando o seu leito de cheia-, ocupou de novo o Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha, bem como o Parque-Verde, destruiu bens, etc? Pois bem, foi em Janeiro e Fevereiro de 2015. Como a Câmara Municipal de Coimbra ainda anda a discutir como e quando vai abrir concurso público para o desassoreamento e limpeza do rio, continuamos com a política do “se deus quiser nada irá acontecer, porque Deus é amigo”. Ora, tomando por avisadas as palavras de um ex-ministro da Administração Interna que, em 2015, perante uma calamidade sul do país, dizia que “a fúria da natureza” nem sempre é “nossa amiga” e, em particular, “Deus nem sempre é amigo”, talvez não tenha sido nada boa ideia não ter resolvido este assunto com prioridade máxima e enquanto o tempo o permitia. É que depois, perante o desespero das populações, a culpa tende sempre a ser sobrenatural e, portanto, sem responsabilidade terrena de nenhum tipo.

Por falar em culpa e sacudir a água do capote: Parece que há um movimento de políticos europeus que diz, sem rir, sem pestanejar e com um ar muito conhecedor, que foi “apanhado de surpresa” pelo Brexit e pela eleição de Trump, afirmando que agora é tempo de agir. Eu só tenho a agradecer a esse movimento porque são a demonstração mais evidente da cegueira que liderou e lidera a Europa nos últimos 20 anos. Faz-me lembrar a pintura genial de Pieter Bruegel the Elder, de 1568, denominada “The blind leading the blind” -que se encontra no Museo di Campodimonti em Nápoles (Itália)-, pois ele retrata bem os tempos que vivemos, a falta de dimensão das elites e o total desinteresse das populações. Como sabemos da nossa história coletiva estes momentos de cegueira nunca terminam bem.

Pirómanos no sistema financeiro e bancário nacional: O Governador do Banco de Portugal, o inenarrável Carlos Costa – que no passado foi várias coisas em vários bancos -, comparou os banqueiros do passado a pirómanos. No entanto, no presente, Carlos Costa, provavelmente porque já se esqueceu que tem funções de regulação do sistema bancário e financeiro, viu o BCE a confirmar que um administrador do BPI, entretanto apontado para a CGD, participou em reuniões estratégicas sobre a CGD e a sua futura recapitalização e… ignorou completamente esse facto. Ou seja, nada disse, nada fez, não atuou na esfera das suas competências e obrigações como regulador do sistema bancário e financeiro português. Mas não é isso que fazem os pirómanos? Ou seja, um pirómano não é uma pessoa que Ignora todas as consequências, todos os perigos – neste caso para o país e para o seu sistema financeiro – de eventuais “ignições” que observa porque na verdade adora ver as coisas a ARDER?

AICEP: Miguel Frasquilho fez um excelente trabalho no AICEP: merece reconhecimento. Anunciou que vai sair, o que me parece que deveria ser evitado no momento. Portugal precisa de estabilidade nessa área crítica da capacidade de atrair investimento, e é muito importante manter estratégias e equipas, dados os bons resultados.

Katrín Jakobsdótti: “Tudo isto significa avanços nos cuidados de saúde, na educação e no bem-estar da população, ao mesmo tempo que se reformula o sistema fiscal. Essas reformas terão de ser pagas e a carga fiscal terá de ser transferida de grupos de rendimentos baixos e médios para grupos de rendimentos elevados”. Quem é a Katrín? Para além de uma mulher muito bonita e mãe, é possivelmente a próxima PM da Islândia. Fazer reformas, aquilo que Portugal anda a ADIAR há dezenas de anos, exige políticos corajosos e afastados dos INTERESSES económicos de pequenos grupos. Seremos capazes? Só quando Portugal e o seu futuro for objeto de DEBATE NACIONAL e os cidadãos exigirem reformas, um plano para as fazer e para as pagar. Até lá, a classe média continuará a pagar todos os desequilíbrios que vamos construindo e agravando, e continuaremos a incentivar que as novas gerações se afastem de Portugal.
1 Sá de Miranda

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