“Estabelecemos pontes com todos os agentes do território”

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FOTO DB/LUÍS CARREGÃ

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Aos 15 anos, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Oliveira do Hospital (ESTGOH) – do Instituto Politécnico de Coimbra –, tem-se afirmado apesar da crise e das dificuldades de ter de a ultrapassar num território a sofrer muitos dos males da interioridade. Com quatro licenciaturas, quatro mestrados e cinco pós-graduações, assume-se como parceiro fundamental dos diversos agentes na missão maior de “qualificar pessoas“, como sublinha, em entrevista, Carlos Veiga, presidente da ESTGOH

Com a ESTGOH a celebrar os seus 15 anos, que balanço é possível fazer?

Há uma primeira fase de afirmação da escola. Mas não podemos ignorar que estes 15 anos coincidiram com muito do que, para o bem e para o mal, aconteceu no país. Estes acabam por ser 15 anos em que o país passa de um período de expansão e de grande esperança, para o sobressalto que atingiu a todos e que, felizmente, parece começar a estabilizar.

Uma escola do ensino superior – muito sacrificado nos últimos anos -, no interior do país, sofre estas circunstâncias de forma particular?

Eu costumo dizer que a ESTGOH tem todos os problemas das escolas do interior, inserida numa instituição que é, teoricamente, do litoral. A grande tensão acontece, muitas vezes, por se tratar de uma instituição que tem dentro de si a contradição que nós vemos no território. E que tem tido muita dificuldade em encontrar soluções diferenciadas para os dois tipos de problemas.

O desafio da ESTGOH é viver nesse paradoxo e tentar responder-lhe?

Exatamente. Os problemas da escola de Oliveira do Hospital não são, de todo, os problemas de outras escolas do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC). Pela natureza da escola, mas sobretudo pela natureza do território em que se insere. Um dos nossos grandes desafios, é encontrar dentro do IPC, ele próprio muito diverso, a solução para essas questões.

Como é que essa afirmação se tem feito?

Tem-se feito com trabalho e com tempo. Com muita persistência e muita resiliência também. Mas também com muita compreensão dos atores locais, com muita esperança e, sobretudo, com muita confiança no trabalho de todas as pessoas que fazem a escola. Os frutos da escola resultam muito desta nossa capacidade de persistir, de encontrar soluções para os problemas que se nos deparam, em relação muito direta com os nossos parceiros locais. Neste momento, a escola tem voz ativa junto de praticamente todos os agentes locais: é associada da escola profissional, está no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, participa no Conselho Municipal de Educação, como tem de participar. Interagimos com todos os atores do município [de Oliveira do Hospital] e de fora do município, cooperamos com a ADIBER, tem uma importância enorme na configuração e no desenvolvimento da BLC3 [Campus de Tecnologia e Inovação].

Há fortes ligações e muitas pontes criadas nestes 15 anos?

A nossa forma de agir, obrigou-nos a estabelecer pontes e linhas de cooperação com todos os agentes do território.

Essa é talvez a característica mais marcante?

Em termos de identidade e de marca assumida pela escola é. Fruto também das circunstâncias e dos atores em causa. É preciso dizer que, com as entidades e os protagonistas em causa, é fácil trabalhar. E é gratificante ao mesmo tempo, porque nós perguntamos e temos resposta.

Talvez porque a ESTGOH veio responder a uma necessidade expressa de territórios com aquelas características?

Nós vemos, hoje, nos documentos de orientação estratégica para o país, do Governo, da Unidade de Missão [para a Valorização do Interior], que nos identificamos com algumas das medidas e estratégias propostas. O que está aqui em causa é nós desenvolvermos a missão da escola, que é a de formar profissionais na região interior Centro, capazes de qualificar o próprio tecido e dar qualificação às pessoas. Levar esta missão à letra, tem sido também um grande desafio, porque isso implica, forçosamente, qualificar pessoas. Num sítio a perder população, é preciso saber atrair pessoas. Mas também tem de significar qualificar quem já lá está e não tem acesso.

E isso tem acontecido?

Tem acontecido. Neste momento, uma parte significativa dos nossos alunos entraram por regimes que não o geral. Do número de alunos da escola, tirando as pós-graduações, cerca de metade entram por outros regimes. São pessoas que estiveram fora do sistema, que voltaram ao sistema agora, também porque não tinham alternativa num raio compatível com o desempenho da sua atividade profissional.

A qualificação, também de quem está no mercado de trabalho, é fundamental?

O paradigma é conseguirmos estabelecer uma relação de longo prazo com os nossos alunos e com os que conseguirmos captar para a escola. Esta relação de continuidade que cada vez mais se exige. Hoje, a formação deve acontecer ao longo do nosso percurso profissional. Por várias razões, porque as profissões mudam, porque as pessoas têm de desempenhar outras tarefas para as quais não estavam vocacionadas ou preparadas.

A transformação do mercado de trabalho exige uma resposta do ensino superior?

Que nem sempre é muito fácil, porque não é fácil ajustar os tempos dos processos mais administrativos, como a acreditação dos cursos, aos tempos das necessidades das empresas. Este é um dos desafios que vamos cumprir. Mas a nossa preocupação tem sido sempre o enfoque no setor produtivo, desenvolvendo a partir daí a atividade formativa que vai dar-lhe resposta.

Isso significa também uma relação muito próxima com todos os atores sociais, nomeadamente o tecido empresarial?

Exatamente. Também com o Centro de Emprego. Proximidade com as empresas que nós entendemos tem que ser cada vez mais reforçada. Nós nem sempre temos as ferramentas para responder aos pedidos que nos chegam, mas temos tido sempre parceiros na generalidade do tecido empresarial. E isso é muito confortável, é muito importante para perceber a importância da escola no tecido empresarial. E se há coisa que é transversal aquele tecido empresarial é a presença da escola.

A presença da ESTGOH é já um dado adquirido nesta equação?

Parece-me que a questão deva ser colocada exatamente desta forma. E tudo indica que, em termos de orientações, se nós queremos ter um tecido produtivo ativo, inovador e que crie valor com os recursos existentes, não podemos pensar que é possível sem ter a presença do ensino superior. Esta questão, mais do que um dado adquirido, é uma necessidade a impor-se. Que pode não ser muito visível em termos de escala, mas que é muito percetível para os nossos alunos.
Em que área é mais visível?

Na informática, temos uma empregabilidade de 100% e solicitações às quais não conseguimos dar resposta. Esta é uma das áreas de formação geral, que tem uma aplicação mais vasta, que permite um leque maior de saídas profissionais, a que conseguimos dar resposta desde o curso técnico superior profissional até ao mestrado, num percurso formativo de sete anos.

A atração de população aos territórios de baixa densidade passa por esta oferta diferenciada?

Essa é uma transformação a que já estamos a assistir, quer por via da consciência das questões ambientais, quer por via dos problemas económicos e sociais. Juntas, estas questões, vão induzir novas formas de produção, novas formas de relacionamento com a natureza e com os recursos. Tudo o que fervilha na região de Oliveira do Hospital relacionado com o aproveitamento do turismo, dos recursos endógenos, das novas atividades profissionais, relacionadas com a floresta e com os recursos naturais, com todo este capital, vai atrair novas gerações. Aos poucos, os mais jovens, que têm tido uma notável capacidade de mudar e de se adaptarem a novas realidades, estão a perceber as vantagens de fazer formação neste registo, dentro deste modelo.

Há uma nova economia emergente que começa a ter visibilidade?

Algumas das nossas propostas são muito direcionadas para o desenvolvimento desse setor económico que emerge, que começa a dar resultados, ligado à bioeconomia e aos biorecursos, que tem sido reconhecida e apoiada pelas instituições europeias. Uma boa fatia do investimento que tem sido feito nesta região em ciência, tecnologia e inovação é precisamente nesses setores. Como é no setor do queijo e outras que florescem. As novas gerações vão, naturalmente, apropriar-se desta mudança e desta nova dinâmica.

Enquadra-se aqui a recente distinção europeia de um projeto da BLC3?

Com o prémio RegioStars 2016, de crescimento sustentável, entregue ao projeto “Centro BIO: Bioindústrias, Biorrefinarias e Bioprodutos”. Este foi o melhor projeto a nível europeu desenvolvido na BLC3 que, claro, reflete as condições de um determinado território, o que vem validar as condições que já foi possível criar no Campus de Tecnologia e Inovação de Oliveira do Hospital, reconhecendo todo o contexto em que o projeto acontece. A partilha deste reconhecimento é importante porque, de alguma forma, valida o trabalho e o caminho que estão a ser feitos.

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