Em torno do 25 de Abril de 1974 deu-se a emigração para França e a fuga dos campos. O Tino veio menino para Coimbra. Celorico da Beira perdeu muitos dos seus filhos e o endiabrado Tino.
Veio aprender a profissão de “criado”, de “empregado de mesa” a ver se “ganhava tino”, e aqui se fixou. Não sei se tem mais irmãos mas sei que quatro rapazes, ele e mais três se consolidaram no negócio de servir clientes que hoje pomposamente chamamos restauração. Conheci o Albertino Almeida na Tendinha do Parque quando servia em Setembro de 1975 de camisa branca e lacinho preto.
Eu era garoto malandro e atrevido. Meu pai gostava de nos levar à Tendinha, restaurante de boa mesa e serviço exemplar naquela altura.
– Serve-me um café no Jardim?
Ele levou-me o café para lá atravessando a estrada e rindo do “menino de família” que pouco mais novo era que ele. O Tino não tinha inveja, não tinha ciúme e lutava para chegar mais além.
Talvez essa mestria do desejo o levasse ao karaté, que abraçou com dedicação extrema até ser cinto negro.Treinava com o afinco que sentem os comandos, até ao sofrimento, superando-se a si mesmo. Esta fibra manteve-o na sua ascensão e no seu desejo.
Os manos também vieram para Coimbra e cada um tem seu restaurante. O Tino gere há décadas o Gôndola, o mais sucedido restaurante da zona de Fala. Não é a Tendinha, é um lugar de comida simples, garantidamente sem doença, de certeza bastamente servida e barata. São pratos típicos que se repetem ao longo das semanas e que os clientes conhecem. 3ª feira é o cozido. 5ª é o bacalhau.
O restaurante trabalha actualmente com a Gracinda (a esposa) e a D. Lurdes (braço direito do Tino há muito tempo). Por vezes ajudam as filhas que o casal acabou por formar com orgulho. A Ana que é veterinária e a Cátia que fez Saúde e Segurança no Trabalho na ESTSC.
Os quatro manos com mais ou menos virtude servem meia Coimbra no dia a dia. O Gôndola do Tino, o 007 do Manuel, o Casarão ali ao estádio Universitário, do Carlos, a Gruta do Pedro. Querem saber quem ganha as eleições? perguntem-lhes. Por vezes os quatro manos jantam juntos num repasto de “la cosa nostra” que roda de casa em casa.
Os manos ajudaram meia Coimbra e Celorico toda. Os manos prestam influencia em coisas que se atrasam, em serviços que uns pedem. O Tino referencia-me o canalizador, o eletricista, o chapeiro e eu lá vejo uma hérnia, uma dor de barriga. Esta disponibilidade é possível pela simpatia do homem, pela generosidade com que nos acolhe.
O Tino teria sido melhor director do Hospital dos Covões que muitos que por lá passaram e nunca entenderam as pessoas e suas necessidades e exigências. O Albertino Almeida trabalhou mesmo de Sol a Sol que eu vi. Foi pai dedicado que eu vi. Foi empresário cuidadoso que eu testemunhei.
O meu amigo Tino venceu e aos 57 anos deixou de trabalhar ao Domingo, colocou as filhas nas suas profissões, tem sua casa, seus rendimentos e é um exemplo de vitória, sem deslumbres, sem aventureirismo da banca, sem dívidas. O Albertino é o sonho português!
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