Há já alguns anos, num debate na RTP, a pediatra Maria Jorge defendia o encerramento da Maternidade da Figueira da Foz como forma de “racionalizar recursos”, bela expressão que, em governês nacional significa, vezes demais, eliminar o que faz falta.
O debate incluía os candidatos do Círculo de Coimbra à Assembleia da República e coube-me, também a mim, contestar o otimismo encerratório daquela que viria a ser a Ministra da Saúde de um alternante governo de direita (de José Sócrates). Fazia-me impressão que o provável governante de um país civilizado pudesse querer transferir os nascimentos da Sala de Partos para a A17, em caso de urgência natal, ou para a N111, sendo o rebento menos ávido da presença neste mundo.
Passou a ser como a quase-ministra queria. Este mesmo jornal deu-nos muitas vezes a notícia de vir ao mundo acompanhada do depoimento do profissional ou do voluntário das ambulâncias – aqueles que vão estando (felizmente) sempre ao nosso dispor nos momentos de aflição.
O problema é que, depois de Correia de Campos, de Maria Jorge e de Paulo Macedo, Adalberto de algumas esperanças e muitas desilusões quer fundir as Maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos. Adalberto não aprende, mesmo que tão tristemente expressivo tenha sido o resultado da fusão dos hospitais de Coimbra, traduzido em extinção de equipas, desestruturação de serviços, ataque à estabilidade e direitos dos trabalhadores, encerramento de valências, desperdício de instalações e equipamentos; mesmo que tão dramático venha sendo o resultado do encerramento de várias unidades do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, designadamente, Lorvão e Arnes, o encerramento de serviços do Sobral Cid.
Enquanto a ameaça vai e vem, já deverá estar preparado o discurso das virtudes dos habilidosos atos de gestão, já há de estar contratada a empresa de comunicação e respetiva estratégia – a voz bem colocada na apresentação dos gráficos, a resposta na conferência de imprensa bem fundada nas folhas de cálculo -, ao átrio das unidades a extinguir chegarão entusiasmantes maquetas e cerimónias de circunstância, melhores se a acompanhar o foguetório houver descerramento de busto. Mais do mesmo – digo eu. E as crianças, senhores? E as mães das crianças?
Atrás do biombo da eficácia aguardam a sua vez os comerciantes de partos, os mesmos ou vizinhos dos comerciantes da colonoscopia, da urgência de penso e paracetamol, da operação de baixo custo e elevado benefício – enfim, os subsídio-dependentes do saque ao SNS.
Estejamos zangados. Porque nenhuma violência verbal contra a régua e esquadro do estirador da saúde, qualquer que seja o quilate dos adjetivos, conseguirá comparar-se à crueldade do desprezo pela saúde dos mortais, agora que o pitéu é o corpo dos que ainda não nasceram. Precisamos de agir
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