No âmbito das “Grandes Opções do Plano 2017” foi divulgada pelo Governo, na passada sexta-feira, a intenção de vir a ter disponíveis nos centros de saúde meios complementares de diagnóstico e terapêutica, apesar de ainda não se referirem especificamente quais.
Por todo o lado se ouvem reações quase imediatas a este anúncio, algumas expectantes relativamente aos critérios que definirão este projeto, mas outras de grande dúvida quanto à viabilidade desta intenção.
Várias questões são colocadas: quem vai fazer as colheitas e realizar os exames? Irão ser mobilizados profissionais de saúde apenas para estas funções, ou irá atribuir-se MAIS esta função aos que já trabalham nos centros de saúde? Neste caso, que cuidados deixarão de prestar à população para se dedicarem a esta tarefa?
Como se pode falar da instalação destes serviços nos cuidados de saúde primários, quando muitos deles estão a ser desactivados noutras instituições de saúde do Serviço Nacional de Saúde?
E o financiamento para instalação e manutenção (muitas vezes esquecida) dos materiais? De onde vem? Será suficiente para garantir o acesso à população com equidade?
Foram apresentados argumentos comprovando a eficiência desta medida?
Testemunhos relativos ao acesso a Exames Auxiliares de Diagnóstico teoricamente mais próximos (como nas ULS – Unidades Locais de Saúde) não são favoráveis; os problemas passam por multiplicação de sistemas informáticos para acesso aos resultados, em vez de disponibilizar todos os recursos no mesmo sistema – o que inviabiliza o acesso global e otimizado à informação clínica de cada paciente.
Nestes casos é também referida a inundação de alertas de resultados no ambiente de trabalho dos médicos durante o seu período de consulta, sem qualquer priorização por gravidade ou necessidade de encaminhamento dos pacientes. Isto significa que resultados de exames com patologias graves ou com necessidade de encaminhamento urgente têm a mesma prioridade que todos os outros nos sistemas atualmente utilizados.
Para a maioria dos que se manifestaram relativamente a esta medida, a solução para otimizar os cuidados de saúde à população não passa por “inventar a roda” mas por investir na melhoria das condições atuais, concentrando esforços e recursos.
Na era da “receita sem papel” e da omnipresença do mundo digital não se justifica que os médicos de família continuem a receber os resultados dos exames auxiliares dos seus pacientes em papel.
A transcrição destes mesmos resultados ocupa uma significante parte da sua atividade, que poderia ser utilizada em consultas, no contacto direto com os pacientes.
É urgente a informatização destes mesmos resultados e a uniformização dos meios usados na consulta num mesmo sistema informático.
Mas tudo isto deverá ser assegurado através de sistemas que FUNCIONEM de forma eficaz e não – como temos visto nas últimas semanas – com o sistema de Prescrição Eletrónica de Medicamentos (PEM) que tanto tempo “custou” a médicos e pacientes.
Mais uma vez, não foram envolvidos os principais interessados na elaboração desta medida. Se tal tivesse ocorrido, certamente que, os seus pressupostos seriam diferentes. Ficam as sugestões.