Estes dias, muito se tem ouvido falar de bombeiros. De facto, causam admiração e gratidão pelo que fazem, principalmente quando há sustos na primeira pessoa. Ainda mais sabendo que a maioria são voluntários ou quase. Venho prestar-lhes homenagem com este texto e aproveito para enaltecer aquilo que me inspiram e me relembram: a humanidade e a compaixão. O povo português, de raízes culturalmente emocionais, não consegue conter a lágrima ao canto do olho quando sente que alguém precisa de ajuda e é de louvar a quantidade de pessoas em Portugal que dedicam a sua vida ao voluntariado e a ajudar os outros. É algo que nos caracteriza e que admiro muito.
E não podia deixar de fazer o paralelismo com aquilo que me faz ter orgulho do que faço e do que vejo fazer também todos os dias, já que vivo no mundo da Medicina: aqueles que vieram para esta carreira como modo de expressar a sua humanidade. Admiro os que ficam para além das horas porque alguém precisa de mais alguma ajuda e não se deixam vender por “dedómetros” que burocratizam e mecanizam uma profissão humana que não pode ter horários ao minuto.
Admiro os que ficam sem comer horas a fio porque têm de salvar uma vida ou simplesmente ouvir mais alguém que precisa, ou até os que fazem mais um telefonema porque ficaram preocupados, ou porque têm de fazer algo mais para ajudar alguém. Ou aqueles que não desistem de alguém, que pegam nos casos “difíceis” e fazem tudo o que podem, independentemente de sentirem que estão exaustos, depois de turnos de 24h que têm de continuar no dia seguinte “porque todos continuam” e porque não há mais quem faça o que teriam de fazer, e porque sabem que quem sofre se saírem para descansar serão os doentes, fragilizados e indefesos. Admiro e louvo os que não desistem de lutar pelo melhor para a saúde das pessoas, mesmo que seja contra os interesses do dinheiro que tanto nos tentam enganar e que, quando chegam a casa, tiram tempo do seu descanso e à sua família para estudar e fazer melhor no dia seguinte. E, ainda, os que não trabalham só nos computadores sem olhar para quem têm à frente e não pensam só nos números que ficam bem na fotografia e nos rankings. Admiro os que simplesmente vão buscar as pessoas com um sorriso à sala de espera apesar das olheiras e frustrações da vida e da profissão, e vão levar as pessoas ao outro lado da rua, porque não conseguem atravessar a estrada em frente. Que abraçam, que tocam, que choram, que se levantam todos os dias com mais ou menos vontade, para passar o dia a ajudar, fugindo como podem do burnout que tanto os persegue.
E ser humano é isto: apagar fogos sem esperar recompensa senão o sentido de dever cumprido. Estes são os “João-semana” dos dias de hoje, as pessoas que devem vir nos jornais, ocupar as colunas e as notícias, mostrar ao mundo que se pode ser e fazer bem e melhor a cada dia, sem precisar de primeiras páginas, de falcatruas, de estrelato, de votos e de jogos de poder. A minha gratidão e admiração é imensa pelas pessoas que se preocupam com os outros, sem esperar nada em troca, pois elas são os exemplos dos médicos, bombeiros, voluntários e pessoas do futuro, que poderão construir um Portugal e um mundo melhor.