Opinião – O último a sair que feche a luz e a porta

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Joaquim Amândio Santos

Joaquim Amândio Santos

A Velha Europa nunca morrerá.

Quero crer que um continente que construiu as bases do humanismo declaradamente mais sólido e uma busca de uma sociedade minimamente justa não venha a sucumbir das inúmeras feridas que os sucessivos responsáveis políticos lhe têm infligido, sem dó nem piedade, ao longo dos tempos, especialmente nas últimas décadas.

A velha Europa e os países que nela estão contidos não morrerá, mas já o Império Europeu com sede em Bruxelas e real dono em Berlim, está a caminho de uma implosão e, por mais doloroso que seja, já não se avista retorno nesta ida até ao precipício e queda da cada vez mais desunida União Europeia.

E os britânicos, com a sagacidade e pragmatismo que sempre lhes foi reconhecida, foram possivelmente os primeiros a perceber.

E fizeram-no porque a sua memória nada tem de curta.

Não esqueceram ainda os milhões de mortos que enterraram em território francês, na 2ª Guerra Mundial, para defender o velho continente da hegemonia nazi alemã, quando a França e os outros países europeus estavam já batidos, ocupados e de cócoras perante o poderio alemão que tudo à frente levava.

O chamado “Brexit” é apenas a ponta do iceberg comunitário que começa a derreter a uma velocidade cada vez maior. E mais calor está pronto para ser lançado de encontro ao bloco cada vez mais fino desta Europa.

Na Holanda e na França já são muitos os que reclamam igual referendo e, o que é mais grave, nem todos são radicais populistas e nacionalistas em busca de uma queda dos regimes democráticos. Nos países nórdicos a vontade de divórcio começa a ser cada vez menos encapotada.

Mas de que vem esta aparentemente súbita vontade de bater com a porta?!

Por um lado, a saída da Grã-Bretanha significará que a hegemonia da Alemanha na UE estará cada vez mais consolidada.

A França, independentemente de quem a governe, passou os últimos anos a prestar vassalagem ao poderoso vizinho germânico.

As nações do Sul fartaram-se de comprar a crédito carros, submarinos e afins e agora o calote é tão grande que pouco mais lhes resta do que ouvir a “voz do dono”.

Os países que com a Alemanha fazem fronteira, especialmente a leste, cada vez mais não passam de uma extensão socioeconómica da mesma. Não deixa de ser irónico que o sonho hitleriano de uma Grande Alemanha esteja a ser cumprido por Angela Merkel apenas e só usando um livro de cheques!

Mas, acima de tudo, é minha convicção de que a Europa, nos últimos 20 anos, tem sido governada por uma mescla de políticos impreparados, incultos e de ténue escrúpulo, sem qualquer visão capaz de construir uma União Europeia sólida no princípio da solidariedade e do bem-estar, iniciando as suas carreiras nos países, dando depois o salto para as lides europeias e, estando aí, iniciando um processo de total subserviência aos interesses financeiros globais, preparando já o seu salto para cargos de prestígio e de remunerações verdadeiramente estratosféricas nas mesmas instituições ou empresas que beneficiaram enquanto exerciam cargos públicos.

Ao longo da sua atividade política, protegem as costas uns dos outros, usam e abusam dos recursos públicos e das mínguas capacidades financeiras dos cidadãos para alimentar o poder político e financeiro.

Os fundadores da União Europeia fizeram-no com dois objetivos principais: evitar nova guerra, evitando o domínio alemão e tornar o continente europeu exemplo máximo do bem-estar e da justiça social.

Os seus patéticos e fracos herdeiros políticos destruíram esse sonho por completo.

Não temo ser chamado de “profeta da desgraça” mas cada vez mais esta UE se assemelha a uma casa em que todos começam secretamente a “fanar” os bibelots, escondendo-os na mala que levarão, enquanto abalam, pé ante pé, pela calada da noite, porta fora.

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