Opinião – O sorriso de Jorge Veiga

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José Reis, Cidadãos por Coimbra

José Reis, Cidadãos por Coimbra

Jorge Veiga, o ser integral que ele foi, espelhava-se luminosamente no seu sorriso. O sorriso permanente de um universitário empenhado, desinteressado das pequenas coisas e profundamente dedicado a causas maiores.

Um homem que ocupava com rara felicidade os lugares por onde andava, lembrando-nos que as instituições podem ser governadas sem pena, sem dor e sem autoritarismo. Mas com muito entusiasmo. E que, dessa forma, são melhor governadas.

Morreu no passado dia 9. Foi Vice-Reitor da Universidade de Coimbra durante vários mandatos. Felizmente, as minhas palavras não são necessárias para fazer justiça à sua obra reitoral.

Ela é incontornável e está matricialmente incrustada no que a nossa Universidade hoje é. E que não era antes dele. Foi Jorge Veiga quem, de forma notável e original, se empenhou na internacionalização da UC.

Porventura ainda mais reconhecido lá fora do que cá dentro, pelos pares que o admiravam, foi ele quem lançou intensamente entre nós essa novidade que era a aventura do programa ERASMUS. Não se tratou apenas de ousar pensar uma Universidade que passasse a acolher as várias línguas europeias e que, através dos seus alunos, se misturasse com todas as culturas europeias.

Foi fazer uma Universidade que se relacionasse de forma aberta com tantas outras, pondo fim a um encerramento pequeno e, por isso mesmo, provinciano. Uma Universidade que também queria ter entre si o português de todas os origens, vindo das paragens que ele bem conhecia. E assim foi.

Assim se criou uma Universidade que encarava o mundo. Não, como diz a vulgata tecnocrática, através de oportunidades mas através de valores – de novos valores. A Universidade de Coimbra cosmopolita que hoje temos é, sem favor, a Universidade de Jorge Veiga.

Acresce que foi um dos poucos universitários que, em democracia, se empenhou na vida pública da cidade, pois foi mais do que uma vez o cabeça de lista da CDU à Assembleia Municipal de Coimbra.

Na última vez que o vi, doente e atormentado pela velhice, permanecia em Jorge Veiga o seu sorriso. E a alegria de estar naquele lugar circunstancial, com todos os que o rodeavam.

Quando tivermos saudades da Universidade humana, humanista, já sabemos de quem nos havemos de lembrar: de Jorge Veiga. Quando nos saturarmos da Universidade autoritária, obscura, em forma pequena, é também a memória de Jorge Veiga que devemos avivar.

PS: Esta podia ser apenas uma homenagem pessoal. Mas não é. É a voz de um universitário e de um cidadão de Coimbra que quer viver em lugares em que haja memória.

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