1.As declarações do ministro das finanças alemão schauble (uso propositadamente letra pequena no nome do senhor) – sobre a possibilidade de Portugal vir a necessitar de um novo resgate – são uma enorme indignidade que deveria merecer um profundo repúdio de todos os portugueses. O que este senhor fez – e ele sabia muito bem o que estava a fazer e como é que ia ser citado e interpretado -, foi ameaçar um país pequeno e em dificuldades como Portugal, jogando os mercados contra ele, acicatando medos, fazendo um papel de velhaco.
As declarações de schauble tinham o objetivo de colocar Portugal sobre pressão, nomeadamente numa altura complicada em que o país enfrenta a possibilidade de sanções da UE. Um político como schauble (insisto na letra pequena) sabe muito bem como vai ser citado e o que tem de dizer para lançar a confusão, e com isso prejudicar Portugal e os portugueses. O que fez foi uma ameaça, acenando com novo resgate, para ser ouvido pelos mercados e por aqueles que ainda têm desconfiança sobre Portugal. Depois, mais à frente ainda na mesma sessão, corrigiu o que tinha dito colocando o discurso no condicional. Isto é, no mesmo tom ameaçador disse que Portugal precisaria de um novo resgate “SE” não seguisse o caminho então definido. O que aconteceu a seguir foi que os juros da dívida portuguesa começaram logo a subir. “schauble” e todos os políticos desta velha europa sabem o que têm de fazer para subjugar aqueles que tendem a ter um discurso e um caminho diferente. Isso é inaceitável. Mas ver e ouvir compatriotas meus a não serem frontais e não condenarem veementemente este tipo de chantagem é para mim muito desmotivador e bem significativo da imensa hipocrisia e sujidade que existe na política.
Francisco Sá Carneiro disse uma vez que “a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”. Deveriam aprender com isso a fazer política.
A verdadeira motivação de schauble, para além de denegrir um país pequeno que entende poder seguir uma caminho algo diferente, era no entanto outra. Infelizmente o Deutsche Bank é um enorme RISCO para a ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL: o número é 5,6 milhões de milhões de euros. Um problema tão gigante que o grande schauble nunca viu, mas interessa-se muito por denegrir Portugal e os portugueses. E isso é inaceitável e merece o repúdio de todos nós.
2. O Brexit fez as bolsas perderem mais de 2 milhões de milhões de dólares ( 2 biliões de dólares), afundou a libra e agravou os juros da dívida soberana dos vários países europeus.
De imediato Berlim e Frankfurt começaram a falar na necessidade de acelerar o aprofundamento da cooperação entre os 19 membros da Zona Euro e que a União Europeia se deveria focar sobretudo em preocupações como garantir a segurança das fronteiras, criar empregos e melhorar a segurança interna.
No entanto, antes disso a Europa tinha enfrentado problemas como a Grécia (humilhando um povo sem a menor preocupação de cooperação e alguma ideia de futuro), e todos os outros países periféricos que foram, ou não, objeto de resgate, o drama dos refugiados, da morte aos milhares na zona costeira da Europa, o drama do desemprego em toda a Europa, o drama das dívidas soberanas, o drama da austeridade, etc., sempre com a mesma resposta: é necessário cumprir regras, quem não cumpre deve ser castigado. As vidas humanas, os sonhos destruídos, as vidas adiadas, uma ideia de médio e longo prazo (civilizacional) para a Europa, etc., nada disso serviu para refletir sobre o rumo que estávamos a seguir.
O que mudou agora? Não me digam que é só o dinheiro?