Opinião – No meio de, e do nada!

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Luís Santarino

Luís Santarino

Poderá ser verdade que há Amigos, mais Amigos do que irmãos. Mas nem sempre será assim. Eu diria que, talvez nunca. Porque irmãos que não se respeitam, não serão propriamente irmãos. Infelizmente, digo eu, sou filho único. Logo, sou doido. Logo já reconheci que sou. Então, estou curado! Porque doidos, são os que ainda não reconheceram que têm uma pancada, seja ela de que tipo for!

Não tive irmãos, mas tive filhos. Logo são irmãos. Logo são Amigos. Então, chateiam-me! Verdade? Claro que não! Não ter tido uma irmã ou irmão, preferencialmente irmã, tira-me do sério. É que eu cresci com os meus filhos. Principalmente com o nascimento do rapaz, em que a rapariga se tornou a sua maior defensora. Não se podia dizer nada ao menino que deitava logo as unhas de fora.

Até a mais velha que vivia na outra ponta da cidade achava que poderia dizer umas larachas e fazer umas ameaças!

Cresci com eles, porque pude aprender o que é ser irmão, nunca o tendo sido. É uma sensação esquisita, porque ao mesmo tempo era Pai, e por isso, não era amigo. Porque a função de Pai e de Amigo é diferente. Ainda que muitos confundam as funções e acabem por estragar tudo. Era delicioso escutar atrás da porta a história que a rapariga contava ao cachopo para o adormecer, após lhe ter dado o iogurte, na boca, claro!

Eu nunca tive uma irmã que me contasse a história, mas estava a vivê-la naquele instante. Por vezes, os olhos fechavam-se e logo acordava, não fosse a história acabar e eu naqueles preparos.

A história era sempre a mesma: “a do ursinho que ia às maçãs”! Uma história inventada que foi passando de uns para os outros. Parece-me que vai passar muito para além de mim, porque ainda hoje falam dela.

É uma história que foi mudando, quase sem repararem, porque era uma história que transportava consigo um sentimento indescritível. Nem amor, nem rancor, talvez coisa nenhuma. Mas senti que naquela altura era a história que deveria ser contada. Saída sem pensar, nem imaginar como iria acabar. Mas como em todas as histórias, acaba sempre bem!

A não ser aquela estória, em que o cowboy acabou por casar com o cavalo do Gary Cooper! É que, uma história, que o deveria ser só para a mais velha, se tornou de tal modo contagiante, que passou para os outros dois. E aí, o que poderia ser verdade ao princípio, desvaneceu-se, e deu lugar a outros e outros sentimentos, também eles inexplicáveis, mas profundos!

Ter irmão ou irmãos de sangue deve ser porreiro. Mas eu tive e tenho felizmente irmãos que, não sendo de sangue, estão sempre no sítio onde devem estar. Malta que cresceu comigo, com quem posso partilhar outras estórias, coisas que não lembram ao diabo. Mas que nos lembravam a nós. E algumas vezes ainda lembram.

É bom ter pessoas em quem possamos confiar a nossa vida, alguns dos nossos segredos, algumas das frustrações que nos assolam, sem medo que um dia, ou num dia, apareçamos com as mãos cravejadas. Não de lantejoulas, mas de dentes!

Por isso, não me arrependo dos Amigos que tenho, dos Amigos que fui encontrando, mas também dos “amigos” – com letra minúscula – com que algumas vezes vamos tropeçando.

É que a alguns desses “amigos”, pensamos que por vezes os podemos apelidar de irmãos. Mas não é verdade. Infelizmente não é verdade!

Irmãos de sangue, ou não, partilhem as vossas mágoas.

Vocês não sabem, nunca saberão, o que são quatro paredes no meio de, e do, nada!

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