Pela mão da associação Cavaleiros do Céu, Ana Custódia, de 97 anos, voou hoje pela primeira vez na sua vida. Descolou do Aeródromo de Coimbra “sem medo”, voou “descansadinha” e aterrou “feliz“.
Ana Custódia esperava junto do seu namorado, perto de fazer 87 anos, sem qualquer tipo de nervosismo ou receio depois de toda uma vida feita com os pés na terra.
“Trabalhei no campo e o meu marido numa fábrica e pensava que seria sempre aquela a vida que teria. Nunca pensei ter esta oportunidade. Nunca pensei que algum dia voasse”, disse à agência Lusa a mulher de Albergaria-a-Velha, “cheia de energia” e que faz “por ter alegria todos os dias”.
Antes de entrar no monomotor Cessna de Manuel Silva, emigrante em Paris, Ana Custódia tinha a expectativa de que a sensação de voar fosse boa e já fazia conta de em 2017 “voltar” aos céus. “Se eu quiser, porque não poderá ser”, perguntou.
No final do voo, que fez com o seu namorado Manuel, Ana estava feliz. Apenas achou o voo demasiado curto (cerca de 10 minutos).
“Ficava mais umas horas”, confessou a utente do Centro de Dia da Associação Solidariedade Social de Ribeira de Fráguas (Cediara), referindo que “era capaz” de ir já até França para ver a seleção nacional jogar: “Ia melhor de avião do que de camioneta, como fui uma vez”.
A iniciativa, organizada pela associação Cavaleiros do Céu e Rotary Clube de Pombal, contou com três pilotos e três aeronaves, que realizaram batismos de voo durante o dia de hoje a 150 crianças e adultos de 11 associações e instituições dos distritos de Coimbra, Leiria e Aveiro, no Aeródromo Municipal Bissaya Barreto, em Coimbra, informou o responsável da associação, Hélder Monteiro.
Um dos mentores da iniciativa é Manuel Silva, natural de Pombal, mas emigrado em Paris desde 1963, que participa em França numa associação semelhante que realiza batismos de voo.
Em 2008, trouxe a ideia para Portugal, sendo esta já a quarta edição.
Para Manuel Silva, é muito gratificante ver a felicidade das crianças e adultos que participam – “um sorriso enorme quando chegam à terra”.
Joana Mateus e Sofia Ribeiro, da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de São Silvestre, em Coimbra, são sinal disso mesmo.
A emoção é grande e as frases para descrever o voo surgem em catadupa. “O céu, as coisas pequeninas, ver Coimbra de lá de cima. Foi tudo tão depressa, que se pudesse ia já outra vez”, comenta Joana.
Lá em cima, diz, encontrou uma “sensação de liberdade”.
“Tinha um bocadinho de medo, mas depois passou. Adorei”, sublinhou Sofia.
Quando um grupo regressava do voo, fazia-se a festa na sala de espera, com sorrisos e abraços.
“As casas pareciam minorcas. Foi divertido”, conta Filipe, de dez anos, aparecendo logo o seu colega Ricardo, de sete, para falar com emoção dos movimentos do avião, que andou “para cima e para baixo e até virou de lado”.
Eva, de sete anos, de Pombal, tinha “um pouco de medo, mas depois passou”.
“Ia já uma segunda vez”, disse, levando agora para casa a memória da sensação das “cócegas na barriga sempre que o avião baixava”.