Opinião – Raia, a parte que temos menos longe da Europa

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Gil Patrão

Gil Patrão

Ainda bem que o tempo aqueceu; os pós de maio curam quase tudo.

Vamos visitar a Raia, terra esquecida na poeira dos tempos, mantida séculos a fio na miséria. Terra inóspita, desprotegida e só lembrada por Reis por ser tampão para quem sempre nos quis usurpar a soberania; dantes pelas armas, agora pela economia!

Mas os governos que temos olvidam demais a Raia Lusitana.

O Mundo mudou, a Europa está unida, Espanha deixou de ser ameaça política, mas a Raia continua olvidada, por mais que o Governo, tal como há 20 anos atrás, diga que nova Missão recuperará essa extensa faixa do território.

É bonito de dizer, cai bem nas notícias, mas será possível inverter o curso da História? Vamos ver o que mudará a leste! Com tanto a fazer, por onde começar? Comecemos por observar o que temos no Centro, antes de chegarmos a Castela.

Saindo de Coimbra, num ápice, tirando partido da novel A13 onde quase não circulam viaturas, entroncamos na A23 que, na parte em que corre pela Região Centro, estabelece a fronteira rodoviária entre uma zona interior depauperada, que tem em Mação, Vila de Rei, Proença, Oleiros e Pampilhosa da Serra exemplos da desertificação humana que criámos sem esforço no interior, e a paupérrima zona raiana que, de Vila Velha do Ródão à Guarda, como que proscreve Idanha, Penamacor e Sabugal, que não parecem, antes são hoje autênticas terras de ninguém…

Ou seja, dum e doutro lado desta autoestrada fronteira não há muito mais que ver que as belas paisagens em que serras, rios e planícies mostram como um vazio populacional pode ser tão apelativo que merecerá mais que investimento turístico, parecendo contudo que terá de ser por aí que quem quiser dignificar tais territórios deverá ir, para se gerar um desenvolvimento capaz.

Ao longo de modernas vias que, para serem estruturantes, terão de ser gratuitas para quem as percorra, há diversas vilas e cidades a visitar. Como Castelo Branco, que estabeleceu, por iniciativa audaz da Autarquia, um polo de desenvolvimento empresarial que conjuga a tradição regional com as oportunidades geradas por uma indústria baseada no que aí abunda. A região poderá – embora com enorme esforço – vir a produzir biocombustíveis, se passar a haver cultivos energéticos em terras que já conheceram a apanha de tabaco…

Um pouco mais acima, no sopé da belíssima Serra da Gardunha, o Fundão aparece como um oásis, embora pareça que a industrialização não será a arma mais adequada para aí vir a haver um muito maior crescimento.

Pouco além, na Covilhã, onde há velhos saberes dos lanifícios, a Serra da Estrela e a indústria merecem reflexão profunda por parte da Missão que, com sede em Lisboa (onde mais havia de ser?) decidiu criar uma extensão em Coimbra, para estar mais perto do interior! Triste sina, a de um povo que tem pensadores prosélitos que, tendo por missão servir o interior, quiçá se sirvam do interior para outros interesses. Se a sede da Missão devia estar numa das muitas terras do interior, que há de norte a sul do país, uma extensão no Centro, que não é todo ele interior, devia ficar onde o interior mais profundo melhor entendesse!

Agora… em Coimbra…, não dará raia?

De seguida, a Guarda que farta, forte e fria, é bonita, se não pela agrestia do clima, pelo esplendor das paisagens e pelo calor humano que emana da sua tão fantástica como sincera gente.

Mais a norte encontramos Pinhel, e há que visitar Almeida para ver, atentamente, uma belíssima fortificação militar. Depois, é seguir por Mêda, para observar o resultado do abandono duma barragem para serem vistas, a seco, as gravuras rupestres do Vale do Côa.

Ao regressar, há que parar nas Aldeias de Xisto, vestígios de tempos idos em que o povo sobrevivia, mas só enquanto tivesse saúde, pela falta de cuidados médicos…, que ainda aí existe.

Sei que a volta foi triste, mas haja esperança!

A Raia sempre é a parte de nós que temos menos longe da Europa! Coimbra.

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