Opinião – Globalização do desenvolvimento

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Olinda Rio

Olinda Rio

Nos passados dias 5 e 6 de Maio decorreu a 2ª edição das Conferências de Lisboa, uma iniciativa internacional de periodicidade bienal, que visa influenciar agendas políticas e especialmente dirigida a decisores políticos e empresariais, académicos, jornalistas e membros ativos da sociedade civil.

Mais de trinta oradores debateram e refletiram sobre a Globalização do Desenvolvimento, tendo presente os desafios globais potenciados pelas novas configurações geo-estratégicas, pela insegurança, pela crise de competitividade na Europa, em interação com a sustentabilidade dos modelos de desenvolvimento, o crescimento das economias africanas e o papel dos países emergentes. António Guterres proferiu uma comunicação pertinente pelo tema e determinante pela urgência da ação.

O ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados realçou o drama e a tragédia das populações que fogem à Guerra e afirmou que a ajuda humanitária, a cooperação para o desenvolvimento, assim como a política externa e de segurança, já não podem ser encaradas de forma separada.

Destacou, ainda, o papel da Jordânia e do Líbano, países vizinhos das zonas mais sensíveis, que recebem milhões de refugiados, que são a primeira linha na prevenção de um maior surto de migrações, mas que não têm merecido o justo destaque nas políticas internacionais, nem o apoio económico correspondente, por não serem considerados países em desenvolvimento.

A nova Agenda Universal 2030, com os seus 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), bem como os grandes desafios à sua implementação, foram tópicos transversais a todos os painéis. Não podem ignorar-se os benefícios que os povos devem à intervenção da ONU e à sua determinação de realizar os Objetivos do Milénio, bem como ao enorme esforço da UE e dos seus Estados-Membros, enquanto maiores doadores mundiais aos chamados países em desenvolvimento.

A geografia da fome há muito atravessou o Mediterrâneo e atinge, também, os países desenvolvidos. A necessidade de proteção dos mais vulneráveis, de promover a globalização da dignidade, de investir na felicidade dos povos, com mais e melhores oportunidades e condições de vida, assumem-se como urgências que exigem a redefinição das prioridades. E não só as políticas, mas igualmente os modelos sociais, o modo de governação, a estratégia económica e de defesa.

Precisamos de uma estratégia de futuro. A natureza da complexidade tornou-se o paradigma que domina os desafios e as respostas à exigência de uma nova ordem mundial na qual cabe, também a Portugal, um papel ativo. Talvez daí o destaque dado nesta edição das Conferências ao lançamento do Clube de Lisboa, tendo em conta a sua centralidade estratégica e geográfica.

Além do papel de Portugal para a globalização, Luís Amado, Paulo Portas e António Monteiro, três ex-Ministros dos Negócios Estrangeiros, debateram a “ Encruzilhada Europeia”, tendo salientado os vários perigos no seio da UE, entre os quais a crise dos refugiados, o referendo no Reino Unido e o antagonismo face à Rússia.

Na minha opinião, numa iniciativa com esta dimensão, faltou a participação de Militares e Ministros da Defesa. Assisti, enquanto trabalhei na CE, precisamente na Direção Geral de Cooperação e Desenvolvimento, a vários debates e ações de especialistas ligados à NATO e à Defesa Europeia e pude constatar a importância do seu planeamento e da sua ação, para além de originarem sempre uma perceção do risco mais apurada, mais preparada e mais realista, sendo talvez esse o défice de informação que existe, conduzindo ao que Vitor Soromenho Marques classificou de “5 pecados europeus”, entre os quais as respostas tardias, a incapacidade de ver o perigo e a assimetria entre escala de problemas e escala de decisões.

Outro problema, abordado pelo diplomata Francisco Seixas da Costa, está relacionado com o Brexit, cuja discussão faz emergir “uma perspetiva mais nacionalista, mais egoísta e de prevalência dos medos – do terrorismo, do desemprego, dos refugiados – que impede hoje um sentimento mais forte de pertença coletiva.

“É uma arrogância geracional pensarmos que a paz, a segurança e o bem-estar que temos hoje é algo adquirido” (Aguiar Branco , ex-ministro da Defesa, Coimbra, 2012 ) e o prognóstico mais seguro quanto ao futuro, é que, “o presente dá sinais de um desastre total eminente” (Adriano Moreira , Coimbra, 2016 ).

Max Weber atribuía à política a tarefa de gerir o futuro e responsabilizar-se por ele. Também as conclusões destas conferências parecem apontar nesse sentido: estabelecer a m ediação entre a herança do passado, as prioridades do presente e os desafios do futuro.

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