A comunicação social é livre!
É legítimo que os meios de comunicação social públicos assumam partido, sem isenção, contra ou a favor do governo? É legítimo que tomem posição desavergonhadamente contra a presidente do Brasil, fazendo eco das posições da direita brasileira? A televisão pública pode fazê-lo? É admissível que os comentadores residentes sejam todos da mesma área política, não representando os vários sectores de opinião?
A televisão pública foi, tantas vezes, acusada de ser a voz do governo. Ora, agora a televisão pública parece ser oposição à nova solução governativa.
Despudoradamente, com frequência, os telejornais da RTP assumem-se contra a “geringonça”.
Veja-se o ar feliz com que Rodrigues dos Santos apresenta resultados económicos menos positivos para o governo. Recentemente, apresentou, com enorme excitação, gráficos referentes à situação financeira do país. A dívida pública, situada nos 130% do PIB. Rodrigues dos Santos salientou, com indisfarçável gozo, que houve aumento entre 2005 e 2011, governo de José Sócrates, e que este aumento teria um perfil diferente do aumento entre 2011 e 2015 no governo de Passos Coelho. O que, diga-se, não é de todo correcto.
É ver o pivot da tv pública animadíssimo com manifestações de escolas privadas ou outras desde que contrárias ao governo. Foi vê-lo aos pulos de alegria pela possibilidade de Tino de Rans ultrapassar o candidato presidencial apoiado pelo PCP, precipitando-se a dar como facto consumado o seu desejo profundo que não se concretizou.
Já em Janeiro de 2015, por altura das eleições na Grécia, o pivot da RTP fez várias reportagens em Atenas. Então, o jornalista deu bem conta das suas opiniões pessoais e políticas, reveladas em comentários como “os gregos inventam mil estratagemas para não pagar impostos” e “muitos dos gregos que andam a pé diante da casa do ex-ministro da Defesa são paralíticos”, sugerindo que subornavam médicos para obter uma “certidão fraudulenta”.
A RTP tem-se prestado a este triste espectáculo. Bem pode o deputado do CDS, Abel Baptista, afirmar que “em coro, deputados e dirigentes socialistas querem calar e domar o trabalho dos jornalistas”.
De facto, vários deputados e dirigentes socialistas têm vindo a pronunciar-se sobre esta descarada parcialidade da televisão pública. Descobriram agora o que há muito o PCP denuncia, reclamando da segregação a que é remetido. Iniciativas de grande importância em participa o secretário-geral do PCP são totalmente omitidas. Iniciativas há com centenas ou milhares de pessoas, o caso da Festa do Avante e de diversos comícios, em que o telespectador não se apercebe, nem pode aperceber da sua dimensão, pois as imagens transmitidas apenas focam o orador.
Mas o inverso também é válido. São conhecidos exemplos de reportagens em que o jornalista refere que “o partido A encheu a baixa de Coimbra”, só que as imagens nesses caso escondiam o vazio, a ausência de pessoas, fixando-se em duas ou três, acompanhadas de som histriónico.
Numa longa história de manipulação da informação, a particularidade deste tempo novo reside em que meios de comunicação social públicos, pagos pelos impostos dos portugueses, são usados contra a solução de governo, a primeira fora do tão afamado arco do poder.
O serviço público da televisão do Estado tem de ser imparcial. Rodrigues dos Santos e outros podem fazer política. Como e a que que quiserem. Podem assumir-se como reaccionários, inimigos do progresso. Não na televisão de todos os portugueses.
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