Engenheiros portugueses na equipa que desenvolve robô de exploração de Marte

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Capacidade de autonomia e resistência a um ambiente hostil são alguns dos requisitos de um veículo que irá explorar o planeta Marte em busca de sinais de vida, dizem os engenheiros portugueses envolvidos no projeto, alguns da empresa com sede em Coimbra Critical Software.

Sete engenheiros aeroespaciais e informáticos portugueses trabalham com técnicos e cientistas de muitas outras nacionalidades nas instalações do grupo Airbus Defence and Space, em Stevenage, a norte de Londres, onde se encontra o centro de testes Mars Yard, onde é simulada a superfície marciana.

É neste local que são feitos os testes do robô autónomo (rover) que vai ser lançado em 2020, dois anos mais tarde do que o previsto devido a problemas técnicos e financeiros, na segunda fase da missão ExoMars, que junta a Agência Espacial Europeia (ESA) e a homóloga russa Roscosmos.

Ao contrário das máquinas enviadas pela agência espacial norte-americana NASA, que foram desenhadas para estudar a geografia do planeta e procurar água ou sinais de vida, o robô da ESA foi desenhado especificamente para descobrir se há ou se houve vida em Marte.

Para recolher essa informação, o veículo autónomo está equipado com uma broca capaz de perfurar até à profundidade de dois metros, indo assim para além da camada superior do solo, que está sujeita a pressões atmosféricas, radiações muito fortes do sol e a variações de temperatura.

O clima em Marte sofre diferenças de temperaturas grandes entre noite e dia, que podem variar entre os -120º e os 50º, o que implica que a construção de veículos de exploração tenha de estar preparada para resistir a este ambiente inóspito e hostil.

O Mars Yard reproduz a superfície rochosa do planeta com pedras de diferentes dimensões e areia igual à usada nos campos de ténis por causa da sua cor avermelhada, importante para que os sensores sejam capazes de reconhecer estes elementos.

“Temos de garantir que o rover tem capacidade para ser autónomo. Garantir que ele próprio, após ter um ponto de chegada, consegue descobrir o caminho e seguir o caminho consoante os obstáculos que são colocados à sua frente”, diz Vasco Pereira, Engenheiro arquiteto de Controlo de Navegação e Orientação.

O veículo, acrescentou, deve ser capaz de “chegar a esse ponto de destino sem que haja uma interação constante dos operadores na Terra e fazê-lo sem ter qualquer impacto que o ponha em perigo – não ficar enterrado na areia ou tentar ultrapassar obstáculos muito elevados que o bloqueiem”.

Um dos elementos importantes para a deslocação do robô são as câmaras que estão em diferentes posições no veículo e cujo uso vai para além de captar imagens do planeta, enfatizou Nuno Silva, chefe do departamento de Controlo de Navegação.

“É o principal, porque tudo isto é baseado na visão. Pegamos nas imagens, detetamos os obstáculos e também usamos as imagens para saber onde estamos e depois temos tudo o que é controlo para termos a certeza de que seguimos a trajetória que fizemos”, referiu.

Equipado com sensores de locomoção nas rodas e sensores inerciais que medem velocidade angular e aceleração da gravidade, o robô está equipado com tecnologia de ponta, mas tudo depende da parte informática, onde estão envolvidos mais portugueses.

“Não podemos construir o Rover com um nível de inteligência básico, é impensável ser a partir da Terra que se comande (parâmetros como) o ângulo das rodas. Toda essa inteligência tem de ser desenvolvida e integrada no computador de bordo”, diz Rui Lopes, responsável de Validação do Software.

Uma das características inéditas desta missão espacial é a existência de dois processadores com ‘software’ diferente.

“É através do software que conseguimos comunicar com o rover, conseguimos recolher os dados científicos e conseguimos fazer com que no final tenhamos resultados da parte científica”, adiantou.

“O nosso trabalho é fazer testes ao longo de todo o ciclo de vida do software, para garantir que está a funcionar como é suposto. Em funções concretas, temos de ler os requisitos, desenhar e especificar os testes e implementá-los, executá-los no simulador e reportar os erros que encontramos”, descreve Luís Gil, engenheiro de ‘software’.

Funcionário da empresa portuguesa Critical Software, tal como o colega e também engenheiro de software David Gil (sem parentesco com Luís Gil), está colocado temporariamente no Reino Unido há dois anos.

“A Critical (Software) tem uma relação de longa duração com a Airbus. Já trabalhámos em vários projetos anteriores e continuamos a ser parceiros, a fornecer serviços de desenvolvimento e de validação de software”, clarificou Luís Gil.

O facto de existirem mais portugueses na empresa, como Filipe Pedrosa, engenheiro de software, e Luís Campos, arquiteto de software, ajuda na integração dos trabalhadores temporários, admite.

“É uma comissão de boas vindas que nos ajuda a integrar, a perceber como funciona tanto a empresa como o país que nos acolhe. Costumamos juntar-nos, volta e meia ao fim de semana, almoçamos juntos durante a semana e às vezes vamos ver o futebol”, conta, a sorrir.

 

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