Opinião – O gesto profético do Papa Francisco na ilha de Lesbos

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Manuel Augusto Rodrigues

Manuel Augusto Rodrigues

Para a história ficará para sempre lembrado o gesto profético do Papa Francisco ao ter-se deslocado à ilha de Lesbos. A imprensa internacional deu grande destaque à viagem papal, não deixando de tecer duras críticas à inoperância dos governantes.

Em Lesbos, Francisco orou pelos refugiados mortos nas águas do Mediterrâneo, confortou os que aguardam a hora de serem integrados em países europeus e outros e lançou mais uma vez um veemente grito para que a humanidade sinta a obrigação moral de acolher tantos desterrados do seu país de origem.

Várias vezes disse que eles não estão esquecidos e que a esperança deve brilhar nos seus corações. No seu regresso a Roma trouxe 12 refugiados cristãos e muçulmanos de três famílias sírias que a benemérita Comunidade de Santo Egídio se encarrega de alojar.

Revestiu-se de profundo significado ecuménico a presença ao lado do Papa de duas figuras ortodoxas: o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Jerónimo. Os três lançaram ao mar coroas de flores, rezaram em conjunto e choraram o fim trágico dos que perderam a vida a caminho da Europa. Era o momento da memória por tantas pessoas que fugindo da guerra e da fome batem agora às portas do Velho Continente para recuperar uma vida condigna.

Já em 2013 Francisco se deslocara a Lampedusa, a ilha italiana mais a sul da União Europeia, e onde afirmou alto e bom som que é tempo de pôr termo à cultura da indiferença.

No porto de Mitilene (capital da ilha de Lesbos) Bergoglio e os outros dois líderes religiosos, guardaram um minuto de silêncio por aqueles mártires das migrações que encontraram nas águas do Mar Egeu o seu cemitério.

Deve reconhecer-se que juntamente, como uma única família humana, somos todos migrantes, viajantes de esperança na tua direcção.

No seu primeiro discurso em Lesbos o Papa, depois de agradecer às autoridades gregas a sua generosidade, fez um apelo à responsabilidade e à solidariedade perante a uma situação profundamente dramática. Os migrantes antes de serem números são pessoas, são rostos, nomes, histórias. A Europa é a pátria dos direitos humanos, pelo que quem nela entra devia sentir e experimentar que, de facto, essa é a realidade.

Dirigindo-se aos habitantes de Lesbos, Francisco pediu que devem demonstrar que nestas terras, berço da civilização, pulsa ainda o coração de uma humanidade que sabe reconhecer antes de mais o irmão e a irmã, uma humanidade que quer construir pontes e foge da ilusão de erguer recintos fechados para sentir-se mais segura.

Importa lutar com firmeza a proliferação e o tráfico de armas e os processos utilizados, muitas vezes ocultos, tudo com a intenção de obter dinheiro e outros objectivos.

Urge privar de qualquer apoio todos quantos perseguem projectos de ódio e violência. Seja pelo contrário promovida a colaboração entre os países, as organizações internacionais e as instituições humanitárias, não isolando mas apoiando quem está na emergência.

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