Opinião – Dos Urais aos Pirinéus

Posted by
Spread the love
Gil Patrão

Gil Patrão

A energia é vital para que as sociedades subsistam e se desenvolvam, o que conduz governos e grupos económicos hegemónicos a controlarem as diversas fontes de energia, que são das mais poderosas forças de mercado.

É neste contexto que prosseguem negociações na União Europeia (UE) para reforçar as ligações de redes energéticas entre a península ibérica e o resto da Europa. Tema antigo, vencer os Pirenéus e interligar redes energéticas peninsulares a França, que dispõe de muitas centrais elétricas nucleares.

Do lado de cá, os interesses portugueses e espanhóis nunca foram coincidentes, pela diferença dos mercados e pela fortíssima dependência lusa de energia, que tanto limita o nosso desenvolvimento. Do lado de lá, a questão energética de 50 milhões de iberos nunca foi vista como relevante, pela grandeza dos investimentos necessários para construir interligações energéticas que permitam fluxos adequados de energia com a Ibéria.

Mesmo com a entrada de Portugal e Espanha na CEE, e com a criação do mercado europeu de gás natural (GN), os fundos estruturais não foram utilizados para construir tais redes elétricas e gasodutos, mas a UE quer agora evitar a forte dependência de GN vindo da Rússia, que constitui grave debilidade geoestratégica que há que ultrapassar. Basta atentar ao que se tem passado na Ucrânia, para compreender que a UE tem de ter outras vias de abastecimento de GN.

A UE poderá utilizar portos de águas profundas da Península Ibérica, em que avulta o de Sines, com frente aberta para o Atlântico, para importar GN doutros mercados e depender menos dos diversos e incertos mercados do Leste e do Mediterrâneo, estes últimos pela ameaça do eterno conflito judaico-palestino e do temeroso novel Estado Islâmico. Se Obama alertou a UE para a situação geoestratégica da Grécia, que se for “porta-aviões terrestre” russo porá em causa o equilíbrio militar entre o Leste e a NATO, já o Syriza usa esta possibilidade para pressionar a UE, visando obter acordos de assistência financeira que possam evitar nova bancarrota helénica.

Havendo vontade política quer da Comissão quer da União Europeia, haverá fundos para ultrapassar os Pirenéus com novas interligações energéticas que reforcem o mercado energético europeu e que nos facultem importar eletricidade donde a sua geração tem menores custos, além de nos permitir passar a exportar mais eletricidade de origem endógena e renovável para a UE.

Em Portugal, poderão então ganhar novo ímpeto políticas energéticas que valorizam as energias endógenas, alternativas e renováveis, pois temos recursos extraordinários ao nível da energia solar, incluindo os que resultam da biomassa florestal, pela via da fotossíntese.

Salienta-se que, devendo a exploração da floresta conciliar interesses diversos, dos económicos aos ambientais, deve também, em qualquer circunstância, incluir vertentes de valorização energética da biomassa florestal residual, pelos benefícios sociais, ambientais e económicos que esta permite.

A biomassa florestal residual é uma fonte primária de energia com combustão neutra quanto ao balanço global de CO2 (dióxido de carbono) no efeito de estufa, o que é uma vantagem quanto ao uso de combustíveis fósseis importados que desequilibram a Balança Comercial nacional e da combustão dos quais resultam gases que agravam o aquecimento global.

Por outro lado, a remoção regular de resíduos florestais cria emprego na silvicultura, evita a degradação natural de biomassa que ao decompor-se emite metano – gás que tem um fator de 25 relativamente às emissões de CO2 – e sobremaneira em países meridionais, diminui o risco de incêndio florestal, que pode acarretar perdas de pessoas e bens que, quando acontecem, a todos nós empobrecem.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.