Opinião – A transformação da natureza

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Cheguei a Coimbra há pouco mais de 40 anos e fui assistindo à sua transformação urbana, mas já então era coisa do passado “a ermida de Celas, de Coimbra, afogada na beleza pálida dos olivais e no verde violento das laranjeiras floridas”.

Conheci entretanto uma floresta antiga que era atrás da minha casa, que amava pela sua natureza cheia de cor que não era nem das oliveiras, nem dos laranjais. Foi abruptamente substituída por prédios em andares, que se transformaram em aglomerados de betão, que não trouxeram qualidade de vida à cidade. Houve ainda algumas tentativas de criar espaços verdes que nalguns casos melhoraram o viver citadino.

Demasiadas vezes houve má arquitetura e ganância que fizeram com que alguns locais evidenciassem que não eram locais para construir. Essa inadequação revela-se claramente quando chove muito, mas nunca podemos dizer demais. É só o resultado da arrogância e menosprezo pela ciência e experiência que nos devia servir de aviso.

E apesar de termos já muito saber acumulado o planeamento urbano não o usa com a sageza esperada.

Por outro lado, as forças do capital financeiro, tentando ganhar juros e lucros mais elevados, usou e abusou do desejo de quase todos nós de termos uma casa boa onde morar, ativando os nossos orgulhos e vaidades, levando-nos a gastar demais na casa e a preterir a satisfação de outras necessidades igualmente indispensáveis. É isso que notamos quando passeamos e vemos como tanto dinheiro foi mal gasto.

Criaram assim possibilidades de contas por pagar, levando à necessidade de recapitalizar os bancos que, pouco avisadamente, criaram necessidades que os clientes não podiam sustentar. Foi também isso que nos fez enveredar por uma paranóica austeridade.

Entretanto, as cidades foram crescendo para os subúrbios, esvaziando os centros históricos, cujas casas se degradaram de forma angustiante.

Foi o resultado de uma opção deliberada de construir de novo sem requalificar os belíssimos edifícios antigos. Foi a marca de um tempo que afetou não só os particulares, mas também o Estado que deixou degradar também o seu património edificado quando o podia reabilitar.

Investiu-se especulativamente sempre demais em betão e desprezou-se outros sectores. Perdeu-se sempre biodiversidade como se isso fosse progresso. Ficámos sempre mais pobres em paisagens e em qualidade de vida com o argumento de que tudo o que era construção era também progresso. E agora sabemos que não.

E temos imensas saudades de olivais, laranjais e matas que desapareceram. E onde já não passeamos.

Apenas circulamos em ruas onde a degradação das casas nos entristece.

Aproveitemos por isso a crise para refazer a cidade e a natureza com que ela demasiadas vezes conflitua.

Procuremos novos equilíbrios na relação com a Natureza.

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