Cartas a censurar peças de teatro, fotografias, cartazes de eventos, panfletos e notícias de jornal vão estar presentes na exposição do Ateneu de Coimbra que assinala os 75 anos de vida da instituição, a inaugurar no domingo.
Ao todo, são mais de 150 objetos que vão estar expostos na sala superior do Ateneu de Coimbra, que ajudam a contar a história desta instituição, marcada pela componente social e luta antifascista.
“Tentou-se fazer uma exposição, que é maioritariamente fotográfica, que cobrisse os 75 anos de vida e que permitisse perceber as alterações e as mudanças que o Ateneu teve” ao longo da sua história, disse à agência Lusa o responsável pela exposição e membro do Ateneu, Alfredo Campos.
Na exposição, é assinalada a importância que a secção de teatro teve em tempos (organizou o primeiro festival de teatro amador do país), a vertente política de luta contra o Estado Novo, a área social que ganhou relevo no pós 25 de Abril, assim como a secção de campismo, que chegou a ser uma forma de se fazerem “fintas” à PIDE.
Nesta iniciativa, procura-se “demonstrar as várias vertentes do Ateneu, em que algumas foram morrendo e outras foram renascendo”, com objetos relacionados com a fundação até “coisas de há um mês”.
Apesar de ser uma exposição essencialmente de fotografia, há também “cartazes, panfletos e notícias de jornal” ou cartas do Serviço Nacional de Informação a censurar uma peça de teatro – objetos recolhidos no “espólio enorme” do arquivo desta instituição, referiu Alfredo Campos.
A exposição está dividida em oito painéis, sendo que o evento permitiu também realizar um processo de digitalização e tratamento dos materiais do arquivo, explanou.
Para além da inauguração da exposição, vai decorrer também na tarde de domingo uma peça de teatro de fantoches, um espetáculo com os utentes do centro de dia do Ateneu, intitulado “A Taberna do Aleixo”, declamações de poesia e um concerto acústico levado a cabo por três músicos dos Diabo a Sete.
Depois de inaugurada no Ateneu, no domingo. às 15:00, a exposição vai depois para o Teatro Académico de Gil Vicente a 04 de dezembro, onde deve ficar durante duas semanas.
Constituído em 1940 por dissidentes do Grémio Operário, intelectuais, membros do Partido Comunista, operários e comerciantes ligados a ideais republicanos e anarquistas, o Ateneu formou-se logo com o objetivo de, através da cultura, apresentar oposição política, acabando por sofrer com isso, como recorda Augusto Monteiro, membro do Ateneu: após várias prisões de associados, “a coletividade nem eletricidade tinha”.
Dentro do Ateneu, organizaram-se um grupo de teatro, um projeto de alfabetização, bailes, jogos de xadrez e damas, bem como uma vertente social de auxílio a famílias de presos políticos e de apoio alimentar e médico a pessoas com dificuldades que viviam na Alta de Coimbra.