As burlas preocupam sempre. Até porque não há limite na criatividade dos burlões. Parece sempre surgir uma nova técnica. “As burlas são algo que nos preocupam e em 2014 tivemos várias situações que decresceram este ano, pois até ao momento só contabilizámos uma dezena de casos”.
Cláudio Lopes, comandante do Destacamento de Cantanhede da GNR, realçou ao DIÁRIO AS BEIRAS que no verão de 2014 “houve muitas situações de burla”.Todas elas diferentes, mas sempre com o mesmo objetivo. “Uma das situações foi com um falso amigo do familiar burlado. Pediu à pessoa 400 euros para entregar uma encomenda e a vítima, acreditando na boa fé do falso amigo, deu o dinheiro”, contou o tenente Cláudio Lopes.
Sem o dinheiro a vítima ficou com uma “mão cheia de nada”. Outra das situações foi com um falso padre. “Uma pessoa recebeu um falso padre que pretendia benzer o ouro da vítima. Acreditando que se tratava de um padre verdadeiro, a vítima entregou todo o ouro que tinha para ser benzido. O falso padre, vendo-se com o ouro na mão, colocou-se em fuga e a vítima ficou sem nada.
Estes são apenas dois dos exemplos que ocorreram no ano passado, em Mira e em Ançã, sempre com pessoas “bem-falantes e bem vestidas”, que conseguem criar conversa, levando as vítimas a cair no “conto do vigário”.
Uma das burlas que também tem ocorrido com frequência está relacionada com a venda de filtros para a água, para que esta seja de qualidade.
Apesar do aumento das burlas a nível nacional, Cantanhede contraria essa tendência e tem feito uma aposta forte na prevenção. “Realizamos muitas ações de sensibilização e fazemos visitas às casas e aos centros de dia e estamos à porta da igreja, para no fim da missa dar a informação necessária”, acrescentou o comandante.
E a sensibilização tem dado frutos. “Já houve situações em que as pessoas desconfiaram e nos ligaram e quando chegámos ao local ainda lá estava o burlão”. Outras houve em que após um contacto telefónico, com marcação da visita, a GNR foi informada e esteve no local, às hora combinadas, evitando que mais um crime fosse cometido.
GNR registou quase 20 mil crimes
de burlas desde 2010
A GNR registou, entre 2010 e setembro deste ano, perto de 20.000 burlas em Portugal Continental, sendo os lesados, na maioria, abordados por estranhos, falsos funcionários públicos ou de empresas, a quem entregam dinheiro ou bens.
Os dados recolhidos pela GNR na sua área de intervenção, que abrange cerca de 90% do território nacional continental, indicam que em 2010 se registaram 3.100 burlas, 2.924 em 2011 e nos dois anos seguintes verificou-se um aumento: 3.482 em 2012 e 3.657 em 2013.
Segundo um relatório desta força de segurança, a que a agência Lusa teve acesso, em 2014 a GNR sinalizou 3.554 burlas, e recebeu nos primeiros nove meses deste ano 2.875 denúncias por este tipo de crimes. Em termos globais nacionais, a GNR registou, de janeiro de 2010 até 30 de setembro deste ano, 19.592 burlas cometidas nos 18 distritos do país.
Porto (2.510 burlas), Setúbal (2.400), Faro (2.399), Lisboa (1.943) e Aveiro (1.871) são, destacados, os distritos onde se registaram mais burlas desde 2010, sendo os idosos os principais alvos dos burlões.
Falsos funcionários
de instituições credíveis
O relatório refere que 14.163 das 19.592 burlas foram praticadas por falsos funcionários de serviços públicos, nomeadamente da Segurança Social, ou de empresas como a EDP – Energias de Portugal ou dos CTT – Correios de Portugal, que, através de “esquemas ardilosos”, enganam e convencem as vítimas a entregarem dinheiro e bens, como ouro.
Nestas mais de 14.100 burlas incluem-se, também, os esquemas fraudulentos de arrendamento de casas para férias no Algarve, levados a cabo através da internet.
Quanto às restantes burlas registadas pela GNR, desde 2010, há a assinalar 2.968 burlas informáticas e nas comunicações, 1.153 burlas na obtenção de alimentos, bebidas e serviços, 994 relacionadas com fraude bancária, 237 relativos a trabalho/emprego e 77 burlas envolvendo seguros.
O relatório da GNR faz ainda uma comparação entre os meses de julho, agosto e setembro deste ano com os do ano passado.
23 por cento das burlas praticadas por homens
Das 1.270 ocorrências verificadas no terceiro trimestre deste ano, 819 são burlas praticadas no arrendamento de casas para férias. Em comparação com julho, agosto e setembro de 2014, houve este ano um aumento significativo: mais 154, 86 e 21 burlas, respetivamente.
O documento refere, ainda, que 23% das burlas cometidas no terceiro trimestre deste ano foram praticadas por homens, 10% por mulheres e 67% por desconhecidos (não identificados pelas autoridades).
A GNR sublinha que no terceiro trimestre deste ano deteve sete suspeitos do crime de burla, mais cinco do que no mesmo período de 2014.
“A atividade criminal de burla está em constante evolução, sendo possível detetar, frequentemente, o aparecimento de novos ‘modus operandi´ e de novos burlões que, atraídos pela obtenção de riqueza de forma fácil, exploram a boa-fé, a ignorância ou a ganância das pessoas burladas”, refere o relatório da GNR.
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