Há dias lembravam-me a velha história de um arquiteto de renome que foi chamado a resolver um imbróglio com um projeto. Reza a história que o dito arquiteto – de Coimbra, por sinal – resolveu o problema com meia dúzia de “rabiscos”.
Disseram-lhe, agradecendo, que tinha resolvido em 15 minutos um problema que outros andavam para resolver há largos meses. Errado, retorquiu o sujeito.
Tinha resolvido o problema em quatro anos de escola primária, seguidos de ciclo preparatório, ensino secundário e seis anos de curso superior. Na verdade, tinha levado décadas para resolver aquele problema.
Há uma história parecida com alguém que foi chamado a consertar uma máquina numa fábrica e terá levado um balúrdio para apertar um parafuso. Mas justificou-se dizendo que o dinheiro não pagava o aperto.
Pagava o facto de ele ser o único a saber qual o parafuso que estava frouxo.São variantes, mais ou menos míticas, de uma ideia fundamental: a educação, a cultura, a ciência – a qualificação, portanto – são centrais na valorização pessoal e profissional de cada um e são o que permite diferenciar Portugal, se quiser competir num mercado aberto e feroz.
Não é competir por competir: é competir para gerar riqueza, para a distribuir de uma forma decente e para pagar serviços públicos essenciais, como a educação ou a saúde. Competir para não estarmos dependentes (ou estarmos menos, vá) da constipação dos “mercados”.
Se a política é um exercício de definição de prioridades, perante recursos necessariamente escassos, o desinvestimento na educação e na ciência, a desgraduação da cultura, não são uma poupança, são uma escolha consciente.
A única compatível com um governo que recomenda a emigração dos mais qualificados e, cá dentro, acena com uma cenoura cor de laranja aos investidores: mão-de-obra barata e flexível. Ou, por outras palavras, uma legião de trabalhadores ignorantes e deprimidos, aprisionados num colete de fome e de vergonha. Não, obrigado.