Numa qualquer manhã da semana passada, um barco de pesca de madeira decrépito e sobrecarregado com cerca de 350 refugiados e migrantes que viviam na esperança de chegar às costas europeias, começou a naufragar a algumas milhas ao largo da costa da Líbia. Pelo menos 140 pessoas devem ter morrido.
São mais um punhado de pontos negros que vão tapando o foco de luz de opções de vida para os migrantes da África subsariana e refugiados que chegam ao norte de África. Os que não morreram não hesitariam em voltar a arriscar a vida, pois consideram ser mais perigoso voltar atrás do que apanhar um qualquer barco da morte.
De acordo com os sobreviventes de um outro barco, os contrabandistas cobravam dinheiro para as pessoas poderem respirar fora do porão onde tinham sido enfiadas à força. Resultado: 51 pessoas mortas por asfixia. Abdel, um sudanês de 25 anos de idade, referiu que respirava através das rachaduras no tecto, que ele e os outros tentavam sair do porão, mas que os outros passageiros estavam com medo que o barco virasse e que, por isso, os empurravam de volta para baixo.
Melissa Fleming, porta-voz da ACNUR, declarou que no passado dia 15 de Agosto foram encontrados no porão de outro barco 49 corpos sem vida. Desta feita, terão morrido por causa da inalação de gases venenosos.
Este ano, e só até final de Agosto, houve mais de 300.000 refugiados e migrantes que usaram a rota marítima através do Mediterrâneo. Quase 200.000 desembarcaram na Grécia e mais de 110.000 na Itália. Estes números representam um grande aumento em relação a 2014, quando cerca de 219 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo e cerca de 3.500 morreram ou foram dadas como desaparecidas nesse mar.
Infelizmente, a maldade não conhece limites e a crueldade dos traficantes não conhece fronteiras. Já não bastava o mar Mediterrâneo ser a rota mais mortífera para refugiados e migrantes. O negócio expande-se para as estradas da Europa. Ainda há dias, 71 pessoas sem vida foram encontradas dentro de um camião abandonado perto da fronteira entre a Áustria e a Hungria.
O desespero de quem procura protecção tem de ter uma resposta europeia que, pelo menos, termine com o comércio de contrabando humano a que assistimos e coloque em execução medidas para proteger e cuidar das vítimas. Para já, e para além da exemplar atitude da Alemanha, salientam-se as mais de 11 mil famílias islandesas que se ofereceram para receber nas suas casas refugiados sírios.
Fizeram-no em resposta ao apelo da autora islandesa Bryndís Bjorgvinsdottir, que criou um grupo no Facebook com uma carta aberta à ministra da Segurança Social do seu país Eygló Harðardóttir, pedindo-lhe permissão para poder ajudar pessoas a quem nunca vai poder dizer no futuro: “a tua vida vale menos que a minha”.
Escreve na carta: “Venho por este meio solicitar uma autorização de residência e trabalho, juntamente com um número de identificação pessoal e os direitos humanos básicos, para cinco sírios. Eu conheço um homem que pode acomodá-los e dar-lhes comida, sendo que serei eu a pagar os bilhetes de avião e a apresentá-los ao país e respectivo povo. Li nas notícias que os islandeses podem aceitar 50 sírios, mas com estes subiríamos o número para 55. Atenciosamente, Bryndís.”