Opinião – Desunião, na União?

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Gil Patrão

Gil Patrão

Muito se fala da Grécia. O tema serve na perfeição para todos, desde os que são europeístas convictos aos que sempre defenderam a não adesão à União Europeia (UE) e ao euro. Os argumentos pró e contra o projeto europeu, sendo imensos, tendem a esquecer a mais óbvia das realidades: a causa da insolvência grega e o que nos arrastou, em 2011, para um terceiro resgate.

Grande parte das notícias que estabelecem o paralelo da Grécia com a nossa situação, visam denegrir Portugal. O sectarismo impera nalguns artigos de opinião, que escamoteiam o que, também a nós, nos levou a aderir à CEE (depois UE) e ao euro. Mas as nossas adesões tiveram um quase incontestado apoio do povo. Foram tão unânimes, que dá para recordar quem criticou, de forma académica exemplar, as ditas vantagens da moeda única, e a não esquecer o combate dum partido político ortodoxo às adesões. Por outras razões, mas com idênticas convicções…

Sobre a Grécia, de que se louva o contributo dado à Humanidade há dois milénios, digo só que não vão pagar juros dos resgastes por 10 anos, e que os programas comunitários serão apoiados a 95 e 100% (quase, ou sem contrapartida grega!). Por cá, pagamos de juros mais de 6 milhões €/ano, e as contrapartidas nacionais vêm crescendo, apesar do que os Descobrimentos ao Mundo deram. Realmente, não somos a Grécia! Recordemos, em síntese, por onde andámos no domínio da política e economia, e o que nos obrigou a ter três resgastes internacionais em quarenta anos.

Como país, gastámos mais do que podíamos. A riqueza gerada não foi suficiente para cobrir os gastos. O aforro nacional, pequeno por sinal, não foi só canalizado para apoiar atividades produtivas, serviu também para fomentar o consumismo e financiar banca e Estado. O Estado delapidou muito dinheiro no que nunca seria produtivo!

Sistemas de apoio equívocos facultaram subsídios a fundo perdido a empresas, que nem sempre financiaram máquinas e equipamentos, mas a compra de bens e serviços não essenciais. A banca apoiou muitas atividades especulativas! As famílias usaram dinheiro que não tinham para financiar em demasia habitação própria, dispendiosas viagens e férias no estrangeiro, carros e muitos luxos. E o povo não questionou a justiça social do modelo económico, que fomos erigindo nessas quatro décadas!

Todos nós, Estado, Empresas, Famílias, vivemos anos esplendorosos, sem querer saber como iriamos liquidar montantes em dívida e sem refletir nas taxas a que o dinheiro era oferecido. Este foi o maior problema, pois o dinheiro oferecido por credores a particulares e Estados, custa sempre muito mais dinheiro, no dia em que há que pagar juros e amortizar dívidas contraídas.
Muito se diz sobre a falta de solidariedade da UE com os países do sul; infere-se dessas críticas que há solidariedade com os do norte.

Mas sempre existiram fundos de coesão para os países menos desenvolvidos, bem como fundos estruturais, para incrementar programas de apoio ao desenvolvimento. A UE sempre pôs à disposição dos países do sul catadupas de dinheiro, para ajudar a desenvolver estes países, com inteligência e trabalho endógenos. Ninguém nos obrigou a gastar dinheiro de forma não reprodutiva, do ponto de vista económico, ou a gastar em bens supérfluos o que devia ter servido para nos ajudar a aproximar a economia da média europeia…

Sei que abordei temas polémicos, que não colhem unanimidade de opiniões nem são populares. Sei que defendo valores que muitos dos que apoiam e votam em políticos irrealistas e aplaudem políticas despesistas, não partilham. Mas também sei que estou mais do lado da razão do que quem prefere gastar o que não tem e critica depois, perfidamente, quem o crédito lhe concedeu!

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