Opinião – A Europa dos adultos

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Norberto Pires

Norberto Pires

O caso grego impressiona-me imenso. Não porque tenha simpatia por países que não tratam da sua vida, fazendo as reformas quando devem ser feitas no momento em que devem ser feitas. E a Grécia não as fez quando foi durante décadas governado por governos socialistas e de direita. E muito menos porque tenho algum tipo de simpatia por países que contraem dividas e depois se escusam a cumprir as obrigações com os seus credores. A dívida grega é gigantesca e mostra bem o descalabro que é aquele país. Também não tenho simpatia nenhuma, mesmo nenhuma, por um país que chegou a esta situação acumulando um conjunto de regalias e ineficiências de todo tipo, as quais vistas em conjunto são de bradar aos céus. Tudo isso existe na Grécia e tem de acabar.
O que me impressiona é que a União Europeia conviveu com esta realidade grega, e até a apoiou porque continuou a emprestar dinheiro e a vendar submarinos, carros, aviões, etc., sem se preocupar com o que era inevitável. Emprestou e continuou a emprestar, exigindo medidas de austeridade quando se apercebeu que a economia grega ia entrar em colapso. Até esse momento as conversas eram todas feitas com “pessoas adultas”, em salas fechadas como convém. Até esse momento não era relevante que os governantes gregos fossem capazes de “contar a verdade ao seu povo”. Estava tudo bem.
Entretanto, em Janeiro de 2015 um partido de esquerda radical ganha as eleições legislativas e mantém até hoje o apoio da maioria do povo grego. E num caminha cheio de erros, resultado de alguma inexperiência e subavaliação dos adversários, coloca em cima da mesa uma agenda reformista que visa resolver os crónicos problemas gregos com o tempo necessário para essas mudanças. Fizeram o que tinham de fazer. Um corte radical com o passado, a análise do que os tinha conduzido a essa situação, um plano de reformas que estivesse indexado aos resultados da economia e não fragilizasse os mais desfavorecidos, o reconhecimento de que a Grécia precisa de mudar radicalmente de vida e que isso deve ser a missão desta e da próxima geração, e um eloquente apontar de dedos aos responsáveis da UE como corresponsáveis pela situação a que se chegou.
A resposta que obtiveram foi intransigente. Os nomeados para decidirem comportaram-se de forma acéfala, como não podia deixar de ser: são escolhidos para fazer e nunca para pensar. Salvo raras exceções não houve uma cabal resposta política a um problema que é essencialmente político, com dimensão cultural porque apela a uma mudança de atitude deste espaço multinacional a que chamamos Europa. De certa forma a Sr.a. Lagarde tem razão quando apela à presença de adultos nas tomadas de decisões: a Europa é gerida por criançolas que se recusam a crescer e que não conseguem distinguir o que esta certo daquilo que esta errado, mas principalmente a perceber o que é importante de entre as milhares de coisas assessórias que nos atingem de todo o lado. Isso só conseguem fazer os adultos, com experiência de vida e capacita de discernir.
Seria necessário que a chanceler alemã considerasse mais importante a Europa e a construção europeia do que salvar a face de alguns negociadores e do Eurogrupo. A solução desta crise implica bom senso, responsabilidade política e coragem. Só há uma pessoa capaz de o fazer decidindo se será uma figura da história ou uma mera nota de rodapé. Pode ficar do lado de políticos sinceros, apesar de inexperientes nas lides internacionais e que cometem muitos erros, que apontam corretamente os problemas:
“Yes, colleagues, Greeks need to adjust further. We desperately need deep reforms. But, I urge you to take seriously under consideration this important difference between:
– reforms that attack parasitic, rent-seeking behaviour or inefficiencies,
and
– parametric changes that jack up tax rates and reduce benefits to the weakest.
We need a lot more of the real reforms and a lot less of the parametric type.” (Varoufakis na reunião do Eurogrupo de 18 de junho de 2015, ou de políticos sem esperança, velhos, sem nenhuma capacidade de reforma e que se limitam a gerir o status quo, como o Presidente do Eurogrupo que inventou um mestrado no seu curriculum mas mesmo assim dita que a “Grécia precisa de políticos preparados para ser verdadeiros com o seu povo”.

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