“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.”
Paulo Freire
Embora a escolaridade não seja sinónimo de educação, uma e outra estão estreitamente ligadas, como se sabe. Mais escolaridade pressupõe mais informação e, por conseguinte, mais exigência, quer nos objectivos pessoais, quer na vida em sociedade.
Dito de outra forma, as pessoas mais informadas têm maior consciência dos seus limites, sabem mais que nada sabem, parafraseando a frase célebre atribuída a Sócrates, para quem a ignorância era a fronteira do saber e, por conseguinte, quanto maior o saber, maior a ignorância.
Nesta perspectiva, a correlação entre a felicidade e a escolaridade deveria apresentar-se como negativa. Mas não é isso que acontece, como mostra a figura seguinte, que correlaciona a felicidade e a escolaridade.
A correlação é positiva e, embora seja estatisticamente significativa, é baixa. Tal deve-se, como revelam os dados que falam por si, ao facto de nem todos os países com média elevada de escolaridade, registarem níveis elevados de felicidade. No entanto, os países “mais felizes” registam, também níveis médios de escolaridade mais elevados.
Como motivo de apreensão dos portugueses, atente-se na posição “isolada” de Portugal. Estando entre os países com um nível de felicidade declarada mais baixa, tendo atrás de si apenas a Grécia, a Hungria, a Ucrânia e a Bulgária, é o país com a média mais baixa de anos de escolaridade concluídos, sendo mesmo o único, entre os 30, com média inferior a 10 anos, quando o valor médio do conjunto é de cerca de 12 anos.
Apesar da “paixão pela educação” que caracterizou o consulado de Guterres, o desnível é ainda muito acentuado e a baixa escolaridade não será, certamente, alheia a uma “certa maneira de ser português”, de que a frase “salazarenta” “pobretes mas alegretes” é um exemplo.
Embora, como alguém disse, a estatística seja a forma mais credível de mentir, ajuda-nos a compreender melhor a realidade, a colocar interrogações e a procurar respostas. É o caso. A baixa correlação entre Felicidade e Escolaridade revela que entre uma e outra há “mediadores” que convém ter presentes.
Não nos sendo possível desenvolver aqui pormenorizadamente a sua análise, que será tema das próximas crónicas, saliento apenas que as classes sociais com mais recursos qualificacionais (profissionais e académicos) são as que registam níveis médios de felicidade declarada mais elevados.
Também acontece o mesmo com as pessoas cujo rendimento disponível lhes permite viverem confortavelmente, 8,8 (felicidade elevada) contra os 5,3 (felicidade moderada) dos que vivem com dificuldades A média de anos de escolaridade das primeiras, é superior a 13 anos, sendo apenas de cerca de 10 anos entre as últimas. O subtítulo desta crónica – estudar compensa – está assim justificado.
Sejam felizes, busquem a felicidade.
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