A viver há mais de cinco anos em Roterdão (Holanda), Susana Pedrosa, natural de Cantanhede, assume já estar envolvida na cena cultural da cidade. O seu trabalho como diretora artística tem vindo a ganhar reconhecimento no país que a acolheu.
Trocou o Porto – onde frequentou o Curso de Pintura, na Faculdade de Belas Artes do Porto – por Roterdão em 2009, quando ingressou no mestrado em Artes Plásticas, no Instituto Piet Zwart. “É um programa de dois anos, muito internacional e relativamente pequeno, uma vez que só aceitam 12 alunos por ano”, explica, dizendo que após a sua conclusão decidiu permanecer na cidade. Tinha 15 anos quando decidiu que queria estudar artes.
Hoje, a artista, que está quase a completar o 32.º aniversário, considera que terá sido a possibilidade de adotar um estilo de vida diferente do que já conhecia o fator decisivo para ter tomado esta opção.
“O meu trabalho tem sido uma procura constante e tem adquirido diversas formas ao longo dos anos”, começa por dizer, revelando que começou a trabalhar em pintura, mais tarde em fotografia e vídeo, depois com texto e instalação. “Em Roterdão comecei a trabalhar com performance e desde 2011 que tenho vindo a desenvolver projetos de longo termo em espaço público”, explica ainda. Em 2013, Susana Pedrosa criou a plataforma “Oblique International”, em colaboração com Patrícia Pinheiro de Sousa, também portuguesa a viver em Roterdão.
“As diferentes formas que o meu trabalho tem assumido têm vindo a ser bem recebidas ao longo do tempo”, diz, explicando que a sua criação enquanto diretora artística tem vindo a ganhar reconhecimento na Holanda, em particular em Roterdão, onde tem desenvolvido a maior parte da sua atividade
No início da carreira, Susana Pedrosa conta que a sua arte recebeu inspiração de várias áreas com destaque para a filosofia. Porém, hoje a artista tem trabalhado no sentido de perceber a articulação entre identidade individual e coletiva e a produção de subjetividade.
“Na minha prática, o espaço torna-se texto, pela procura de lugares comuns presentes na linguagem, gestos, rotinas e protocolos que definem uma coreografia social”, diz, acrescentando que o texto torna-se espaço através do desenvolvimento de plataformas que convidam o público a criar coreografias sociais. Atualmente, Susana Pedrosa utiliza diferentes áreas do conhecimento no seu trabalho.
Última exposição em Portugal foi em Serralves
Desde 2005 que tem vindo a expor a sua arte. Susana Pedrosa destaca a última exposição realizada em Portugal, “Bes Revelação 2009”, que esteve patente no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. “Foi importante para mim porque foi exatamente no momento em que me mudei para Roterdão e desde então a minha prática artística desenvolveu-se de uma forma inesperada”, confessa ao DIÁRIO AS BEIRAS.
“Estou a começar uma nova fase”, diz, explicando que trabalha há 10 anos como artista plástica e há cerca de dois como diretora artística e produtora freelancer.
“Tenho cada vez mais projetos e propostas de trabalho nesta área”, revela, garantindo estar agora numa fase de estabilização enquanto freelancer. “Estou contente com as minhas escolhas, mas evidentemente que o processo de adaptação demora algum tempo e é difícil”, admite, referindo-se à escolha que tomou de ir viver em Roterdão.
Susana Pedrosa não pensa regressar a Portugal, mas considera trabalhar mais no país que a viu nascer, nomeadamente até seria capaz de “passar temporadas em Portugal a realizar novos projetos no futuro”. No que respeita a sair da Holanda, a diretora artística considera fazer residências artísticas noutros países e passar temporadas fora, “mas a Holanda é a minha base e para já quero ficar por cá”.
Neste momento, a artista continua a realizar projetos com o “Oblique International”. Paralelamente, está envolvida na produção de um projeto de design social e também é membro do quadro de uma fundação de investigação sobre a relação entre o trabalho maternal e a prática artística.
“Neste momento, a minha prática é coletiva e plural e trabalho sobretudo como diretora artística e produtora, e menos como artista plástica como uma prática singular”, explica ainda ao DIÁRIO AS BEIRAS, manifestando o desejo de, no futuro, trabalhar numa instituição artística.
“De momento, trabalho como freelancer, o que é óptimo para adquirir experiência e poder desenvolver diferentes projetos ao mesmo tempo”, considera, explicando que no futuro gostava de estar envolvida num projeto de longo termo ligado a uma instituição. “Penso que quando isso acontecer, estarei finalmente numa fase mais estabelecida da minha carreira”, assume.
Carreira de artes exige dedicação
Susana Pedrosa dá aulas a jovens que querem ingressar num curso superior artístico e o conselho que lhes costumar dar é “para escolherem o que lhes serve melhor e não seguirem modas”. Aos aspirantes a artistas, em Portugal, a diretora artista considera importante que pensem previamente se é isso mesmo que querem fazer. “Uma carreira nas artes demora tempo e dedicação, é difícil, uma pessoa tem que ter a certeza de que é isso que quer”, refere. Viajar e ver diferentes modelos é outro dos conselhos que Susana Pedrosa deixa.
“A terceira coisa importante é saber ter uma visão realista do que significa trabalhar na área artística hoje em dia”, deixando cair a conceção do artista romântico que trabalha isoladamente no estúdio.
Questionada sobre o estado do setor, Susana Pedrosa responde que “as artes não estão da mesma forma na Europa que estão nos Estados Unidos da América, na China, África ou nos Emirados Unidos”. Na ótica desta artista cantanhedense, as artes refletem condições políticas, sociais e económicas de um país.
“Em Portugal, pelo que sei há uma grande falta de apoios públicos para os artistas e as instituições artísticas e há pouca tradição por parte dos pirvados em apoiar as artes”, diz, aproveitando para dar o exemplo da Holanda, onde “há imensos subsídios públicos e privados para ajudar artistas e iniciativas de várias dimensões e interesses, apesar de ter havido grandes cortes públicos em 2011”.
Porém, no que diz respeito a Portugal, Susana Pedrosa sabe que “há artistas e instituições a fazerem um enorme esforço para continuarem a produzir e há coisas muito boas a serem feitas”.