Como é que surgiu o gosto pelo surfe?
O surfe surgiu na minha vida quando tinha 15 anos e desde o primeiro dia que soube que era ali no mar o meu lugar. Cresci como surfista nas ondas da Figueira da Foz (um surfista de Coimbra). Mas desde cedo comecei a viajar e aos 20 anos fui para a Nova Zelândia por meses . Desde aí nunca mais parei. Fui campeão nacional em 2008, e obtive a minha primeira nota 10 num campeonato de Tubos na pesada e perigosa onda de Puerto Escondido no México.
Porque decidiu ir para Goa?
Como durante o inverno o iSurf só abre ao fim de semana e o meu filho [20 anos] pode conciliar o surfe na Figueira com os estudos em Coimbra [Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra], decidi aceitar o desafio lançado por um amigo de infância que casou lá e tem vários negócios em Goa.
E quando foi?
Estou em Goa, desde dezembro, com a minha companheira, a gerir uma escola de surfe e um Surfe Camp. Depois ainda tenciono ir um mês ao Sri Lanka. De junho a outubro, estou de volta à Figueira da Foz ao iSurf Academy na praia do Cabedelo.
Para o próximo ano devo ficar mais dois meses a gerir o Surf Camp.
Mantém o surfe como a sua área de atividade?
A minha área é o surfe. Aí [Portugal] ou aqui [Índia] foi, é e será sempre o surfe. Por gosto, mas também porque cada vez mais este setor consegue proporcionar uma opção de vida viável.
Mas tinha outros projetos em Portugal?
Sim. Fazia e ensinava surfe [Figueira da Foz] e estava ligado a vários projetos na esfera do associativismo a partir do surfe. Ligações que vou mantendo, porque mesmo à distância mantenho um contacto muito próximo.
Como é que a família e amigos estão a reagir?
Ficaram com saudades, mas não estranharam esta minha decisão porque já os fui habituando com outras ausências. Tenho viajado bastante e já passei longas temporadas a trabalhar fora do país pelo que esta situação já não é nova.
Foi difícil a integração?
De um modo geral e com a ajuda do Gonçalo Morna [amigo de infância] foi uma integração pacífica e natural. O facto da minha vida ser na praia com o surfe e esse ser o meu lugar, aqui ou em qualquer parte do mundo, sinto-me sempre em casa. É a minha praia, como se costuma dizer.
E as pessoas gostam? Quem o procura?
As aulas são, sobretudo, para turistas ainda que tenha muito orgulho nos meus alunos indianos. São poucos. Têm uma enorme curiosidade e vontade de aprender. Atualmente, estamos em conversação com o Governo para explorar a possibilidade de uma maior integração do surfe.
Que diferenças encontrou na Índia?
A maior começa logo pela questão demográfica. Num país onde a população já ultrapassou o bilião de habitantes há bastante tempo, cria algum impacto à chegada. Depois o trânsito é caótico, muito lixo e animais de grande porte (vacas, búfalos, entre outros) a tomarem conta das ruas.
Do que sente falta?
Da família, dos amigos e das belas ondas da Figueira da foz. Mas também me faz falta o bacalhau e todas aquelas pequenas coisas, quase insignificantes, de que só nos apercebemos quando não as temos.
A moda à volta da Nazaré pode ajudar a promover a modalidade. A Figueira da Foz tem as mesmas condições para a prática?
À Figueira da Foz falta estratégia e vontade política para a construção de um produto sustentável, numa atividade que já é uma das que mais impacto tem no turismo do nosso país. Falta a coragem para apostar num nicho de mercado dentro do surf, como se fez na Nazaré.
Pensa voltar a Portugal ou pretende continuar em Goa?
Sim, quero voltar, mas só pretendo chegar com o bom tempo. Quero evitar as chuvas da monção em Goa e também o frio do inverno em Portugal. Gostaria de experimentar viver os 12 meses do ano no verão.
Pela sua experiência, como vê a prática do surfe no futuro?
Vejo um crescimento acelerado no que concerne ao número de praticantes, mas vejo um crescimento ainda mais forte enquanto produto que nos últimos anos tem referenciado Portugal pelos melhores motivos. O surfe cresceu e diversificou-se. Está a criar diferentes nichos e tendências dentro da modalidade, onde a competição avançada convive cada vez mais com a exploração de limites nas ondas grandes e em condições extremas, mas também com tendências retro. Por pura curiosidade pessoal ao longo do meu percurso como surfista tenho conseguido cruzar várias abordagens.