De presidente da AAC a partner da Ernst&Young no Brasil

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Miguel Duarte

Miguel Duarte

Miguel Duarte nasceu, estudou e licenciou-se em Coimbra. Antes de acabar o curso teve “tempo”, a par de engenho e arte, para assumir a disputa política na Associação Académica de Coimbra, que o levou a presidir à Direção-Geral, em 2004.

Terminada a licenciatura em Economia, inicia atividade em consultoria estratégica na multinacional francesa Capgemini. É então que decide que a sua vida seria exclusivamente dedicada ao mundo corporativo.

Os primeiros projetos são na indústria aeroportuária em Portugal. “Confesso que fiz trabalhos interessantes nos anos em que a economia portuguesa ainda tinha algum dinamismo”, revela.

A partir de 2007, Miguel Duarte opta por especializar-se em inovação estratégica e enceta uma nova fase da sua carreira na Strategos (empresa americana fundada por um dos pais do pensamento estratégico, Gary Hamel). “Com a Strategos, comecei a trabalhar em algumas das principais corporações globais de eletrónica de consumo, analisando e discutindo com a C-Suite dessas empresas o futuro da sua indústria, cenários possíveis para longo prazo (10 a 20 anos) e modelos de negócio inovadores que poderiam ser introduzidos nos seus mercados de atuação”, conta. Assim, até 2011, passa mais de 60% do tempo fora de Portugal, nomeadamente, na Coreia do Sul, Espanha e Brasil.

Partner da Strategos para o desafio Brasil

No final de 2010, passa a partner da Strategos e fica responsável pelo desafio de desenvolver o projeto Brasil. “Mudei definitivamente em Janeiro de 2011 para o Brasil e a partir desse momento comecei uma nova fase da minha vida nesta economia cheia de oportunidades e volatilidades”, recorda. Em ritmo frenético, leva o seu trabalho até empresas de dimensão igualmente global, como uma das maiores mineradoras do mundo, a maior fábrica de automóveis do mundo (em 2011, produzia 3.000 viaturas por dia), grandes players de eletrodomésticos e também de bens de consumo.

O Brasil de 2011 ainda vivia a euforia do crescimento de 7,5%, referente a 2010, e o preço do minério de ferro (principal exportação para a China) acima dos 160 dólares nos mercados internacionais (hoje vale perto dos 60 dólares). “Estes foram anos fantásticos de crescimento profissional e de experiência de empreendedorismo numa economia emergente onde tudo se pode complicar de um dia para o outro”, orgulha-se.

Neste contexto, a Strategos garante um posicionamento de mercado muito interessante (nicho de especialização em inovação estratégica) e ganha reputação de bom trabalho e bons clientes, o que leva a Ernst & Young (EY) a interessar-se por comprar a sua operação no Brasil. As negociações são bem sucedidas e, em maio de 2014, o negócio fica fechado. A partir de então, Miguel Duarte passa a integrar a EY Brasil como partner para a área de estratégia e inovação.

“Hoje o Brasil é uma economia com alguns problemas mas com muitas oportunidades”, reconhece o gestor, sublinhando um artigo do The Economist, na passada semana, em que o articulista deixa claro que os problemas do Brasil se devem à política desastrosa do executivo anterior. “É uma “auto-flagelação” que o país está a sofrer sem qualquer relação com a tendência económica global”, resume.

Apesar da volatilidade e complexidade do país, Miguel Duarte admite que a sua experiência no Brasil e em São Paulo foi sempre uma relação de fascínio e vontade de conquista.

“Há muito poucas cidades no mundo com o vigor e dinâmica de São Paulo. São cerca de 11 milhões de habitantes na cidade de São Paulo e cerca de 20 milhões na região metropolitana, tudo acontece 24×7 e o ritmo é muito aliciante para quem está focado em trabalhar e construir. Dificilmente trocaria São Paulo por outra cidade mais pequena, os riscos são grandes, as oportunidades são gigantes”.

Quando cruza a Ipiranga com a avenida São João

Como dizia o Caetano Veloso, em Sampa, “alguma coisa acontece no meu coração quando cruzo a Ipiranga com a Av. S. João”.
Miguel Duarte reconhece a importância que o Brasil teve na sua vida. É um cenário onde é preciso ter uma obstinação, fixação no trabalho e nas metas, fora do normal. A vida pessoal não tem destaque para quem ali quer vencer. “Aprendi a dar um valor extraordinário aos milhares de emigrantes portugueses que fizeram aqui os seus impérios, acreditando no valor trabalho e dedicando-se dia e noite ao seu negócio. Estes homens fizeram a diferença aqui e em outras geografias”, afirma.

O resultado prático de tudo isto é o acumular de férias por gozar. “Acabo por tentar colar alguns dias de paragem a períodos de feriados/festas do calendário anual. Faço algumas paragens mas no máximo tiro 10 dias entre Natal e o final do ano e tenho escolhido destinos mais recônditos para estas mini paragens”, admite, antes de aclarar o seu fico: “Para mim o trabalho não é um meio de subsistência, o trabalho é um valor central na minha vida. A minha felicidade/bem estar é diretamente proporcional ao que atinjo profissionalmente”.

Em 2012, entretanto, entendeu que precisava de fazer um Master numa universidade de ponta e reconhecimento global em ciências sociais. Por isso, iniciou um MSc em Gestão na London School of Economics & Political Science. Como a escola tem um programa global para executivos, começou a ir a Londres trimestralmente e ficava sempre duas semanas para as aulas.
Foram dois anos intensos, tal a quantidade de papers que tinha que produzir, entre aulas, o que ocupou todo o tempo livre. “Entre outubro de 2012 e julho de 2014, contei com a compreensão da minha mulher e ocupei 80% dos fins de semana e boa parte das minhas noites a estudar e escrever papers para a LSE.

“Foi uma ótima experiência e consegui graduar-me com Distinção pela LSE. Deu para perceber que afinal ainda tinha um tempinho na agenda que estava por preencher. Foi um período fantástico de estudo e análise que ligou muito bem com alguns dos trabalhos que estávamos a fazer no Brasil na área de Private Equity e Venture Capital”, explica. A sua tese acabou por ser dedicada a Private Equity, tendo ganho o prémio de Melhor Dissertação.

Da vida nacional, confessa que acompanha muito pouco e apenas os grupos de Whatsapp e redes sociais ajudam a manter a conexão. “A única razão pela qual ligo a TV no Brasil é para ver a BBC World News e ter uma perspetiva rápida do que está a acontecer no mundo”, conta.

De Portugal, interessam-lhe apenas os amigos (que, diga-se, também estão espalhados um pouco por toda a parte) e a família, com quem comunica duas a três vezes por semana, por Skype. “Estamos todos mais perto com a tecnologia e por isso acompanho as coisas essenciais da vida de cada um deles”, remata.

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