Projeto de preservação de fertilidade fala de um futuro a doentes com cancro

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Oncofertlidade

Um projeto do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), a funcionar desde 2010, preserva a fertilidade a doentes oncológicos e dá a possibilidade de se falar de um futuro quando o presente “é muito negro”.

Em 2010, foi diagnosticado um linfoma a Marta, de 33 anos, que foi alertada pela sua médica de que o tratamento de quimioterapia e radioterapia lhe poderia pôr em causa a fertilidade, tendo feito uma criopreservação do tecido ovárico.

Quando é diagnosticado um cancro “a uma pessoa, não se pensa em mais nada a não ser em resolvê-lo”, sublinhou, contando que quando lhe propuseram a possibilidade de preservar a sua fertilidade a partir do Centro de Preservação da Fertilidade do CHUC foi “uma porta aberta”.

“O facto de nos estarem a propor um futuro, de haver algo mais do que aquele período negro, enche-nos de esperança”, contou Marta.

Dois anos depois de ter ultrapassado o cancro, foi contactada pela psicóloga do centro para uma consulta, concluindo-se que o tratamento ao linfoma afetou a sua fertilidade.

“Na altura, não estava sensibilizada nesse sentido”, referiu, estando agora a preparar “um reimplante do tecido ovárico”.

O Centro de Preservação da Fertilidade do CHUC, a funcionar no Hospital Pediátrico, começou em outubro de 2010, após a divulgação das recomendações da Sociedade Americana de Oncologia, que apontava para a necessidade da preservação da fertilidade, disse à agência Lusa a diretora do centro, Ana Almeida Santos.

Ao início, o centro oferecia a criopreservação do tecido ovárico – uma técnica experimental – e a preservação de esperma, sendo que desde outubro de 2012 disponibiliza também a congelação de ovócitos.

Até ao final de dezembro, o centro já preservou a fertilidade a 275 doentes oncológicos, 188 homens e 87 mulheres.

A maior parte dos médicos “não falavam deste assunto”, apontou a coordenadora de uma equipa multidisciplinar de seis médicos, uma psicóloga, dois embriologistas e uma farmacêutica.

“Idealmente, os doentes têm de vir assim que lhes é diagnosticado o cancro”, visto que se deve fazer a preservação antes de o tratamento começar, aclarou, considerando que “no momento em que se trata da doença, também se tem que pensar na vida para além do cancro”.

Cláudia Melo, psicóloga do centro, sublinha que no meio da “revolta” e da “incontrolabilidade emocional” do diagnóstico, o facto de os doentes poderem tomar uma decisão, mesmo que optem por não preservar a fertilidade, faz com que “melhore a sua qualidade de vida”.

Também na fase de pós-doença, um momento “com níveis de depressão e ansiedade muito elevados”, haver “um projeto de parentalidade” leva a “uma melhor adaptação” na sobrevivência, salientou.

No centro, “fala-se do futuro e não de um presente”, em que “o médico só dá más notícias”, concluiu.

No dia 28 tem lugar uma sessão pública, no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, especialmente destinada a médicos, organizada em conjunto com o Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro e a Administração Regional de Saúde do Centro, que pretendem com esta iniciativa lançar um projeto nacional de ampla divulgação da oncofertilidade.

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