Opinião – Comentador comentado

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Há poucos dias, no rescaldo das eleições gregas, um desses populares jornalistas e escritor consagrado, foi alvo do desagrado dos muitos comentadores que exercem o seu dever de informar e de criticar nas redes sociais e nos cafés.

Gente com mais habilidade do que eu repetia, em círculos de amigos ou nos locais de trabalho, as suas frases cheias de parvoíces, que pareciam ser encomendadas por “uma imposição superior vinda de Coimbra”, algo que antes em 1954 era subentendida entre linhas a propósito da publicação de um trabalho de geologia, onde interferia um bispado geológico .

Como consequência havia até no Facebook a capa inventada de um livro com o título “Um palerma que viajou de Lisboa para Atenas”. O pouco que tinha ouvido do senhor na RTP 1 já me tinha convencido de que ele não esteve nada bem nas suas reportagens mal fundamentadas.

Uns amigos que dias depois o tentaram defender, estenderam-se ao comprido na defesa e foi pior a emenda que o soneto, levando-nos a concluir que com amigos assim este jornalista metido a comentador não precisa de inimigos. Recordando os congressos em que estive com colegas gregos, recordei uma colega que encontrei há cinco anos em Amesterdão, mulher de um ex-ministro ou assessor de um governo de direita, que me afiançou que todos eram contra o PAZOK e as medidas de austeridade que implementou.

Mais tarde, em S. Luís de Potosi, uma antiga capital do México, já no encerramento de outro Congresso pude trocar umas palavras com colegas gregos e fiquei com pena de ter tão pouco tempo para conversar, pois iriam dar-me informações corretas
Tenho por isso a certeza de que se o jornalista tivesse andado diligentemente nas ruas de Atenas, teria tido informações fidedignas sobre os sentimentos do Povo Grego e conseguido perceber bem as razões do esvaziamento de partidos tradicionais que traíram o seu eleitorado.

Na verdade, a vitória do Syriza colheu de surpresa os nossos jornalistas/comentadores e isso explica as notícias erradas dadas no dia 26, pois tinham os cérebros formatados pela política nacional, onde só um partido se tem oposto com firmeza à austeridade, estando os três partidos da governação enfeudados a uma troika, que, “apalermada”, se deixou enganar pelos donos do BES e outros.

Parece que todos concordaram com Passos Coelho quando disse “Ideias do Syriza são “conto de crianças”. Contudo, foi rápido que na Grécia o Partido vencedor encontrou um parceiro à direita para fazer o governo. E nós por cá continuamos a assistir às dificuldades recorrentes dos partidos da governação para gizar uma estratégia credível.Tudo aponta para a necessidade de uma mudança radical ainda este ano. Ou vamos manter-nos neste pântano?

( 1 )Fundo Bibliográfico do Professor Santos Júnior, sito em Torre de Moncorvo, Pires Soares – Correspondência 1954-1955, Documento 147-148//441

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