Opinião – Uma quinta-feira importante

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José Couto

José Couto

É cada vez mais preocupante a persistência dos indicadores que indiciam estarmos à beira de uma deflação. Não é em Portugal é sobretudo na Europa. A descida da inflação pode ser o resultado de um conjunto de medidas de austeridade implementadas nos países com deficits excessivos, mas é sobretudo, na opinião de muitos, pela opção clara de uma política global austera que inibe o consumo e tem adiado investimentos.

A Europa ao que parece acordou tarde, ou atendeu tarde ao que alguns anunciavam, o que pode pôr em causa o tempo da recuperação. Pode ter perdido a primeira corrida, é que temporizou de mais e perdeu na velocidade. Mas muitas vezes mais vale uma falsa partida do que ficar pregado ao chão perdendo qualquer hipótese de recuperar e chegar entre os primeiros.

A competitividade da economia das empresas depende de inúmeros fatores, mas se não tiver como contributo fundamental, e à frente de tudo, a inovação, num contexto de mercado global cada vez mais exigente, irá definhar rapidamente. Os empresários através das suas organizações associativas evocaram sinais de perigo e dos riscos de uma política sem privilegiar investimentos na inovação para reforçar a competitividade.

Persistiram na necessidade de serem adotadas políticas concertadas de crescimento. Ouvimos o Comissário Carlos Moedas a falar sobre o maior programa-quadro de sempre de investigação e inovação da União Europeia, que tem um orçamento de quase 80 mil milhões de euros para os próximos 7 anos, e ficamos convencidos do atraso com que a Europa reage e adota medidas. Mudar de paradigma económico não se faz de um dia para o outro.

A inflação, há muito, está abaixo do ideal na Zona Euro e, nos países mais fragilizados, os preços já estão há vários meses a registar uma evolução consistentemente negativa. O ajustamento económico que existiu, e que continua a existir nesses países, incluindo Portugal, tem sido uma das razões invocadas pelo presidente do BCE para explicar a baixa inflação, já que a pressão sobre os salários e o desemprego travou a evolução dos preços em países como Portugal.

Mas, olhando para a Zona Euro de forma global, associando as políticas de austeridade com a recuperação lenta da atividade económica e da concessão de crédito, a forte queda dos preços da energia coloca enormes desafios na implementação de um novo ciclo económico, para o qual teremos que ser criativos mas sobretudo determinados.

A queda dos preços do petróleo contribui fortemente para a evolução negativa dos preços na Zona Euro, com o Eurostat a calcular que os preços dos produtos energéticos caíram 6,3% em dezembro, algo decisivo para a descida global de 0,2% dos preços no consumidor.

Em Portugal os preços na produção industrial caíram 3,3% em dezembro, face ao mesmo mês de 2013, e 1,8% em relação a novembro, segundo o INE. Para esta descida o preço da energia foi determinante. É certo que o BCE tem vindo a adotar um conjunto de medidas pontuais, na tentativa de controlar a deflação, baixando sucessivamente as taxas de referência em mínimos históricos, contudo não parece suficiente e será necessário muito mais para criar condições de estabilidade e de confiança, que permita num segundo momento motivar o investimento privado produtivo como alavanca à sustentabilidade de um crescimento económico, que crie condições de estabilidade social, bandeira da Europa Ocidental.

Nesta quinta feira, o BCE vai dar sinais à economia. Por agora a economia está em módulo de espera, ouvindo os argumentos a favor e contra uma decisão de atuação mais ou menos intrusiva e interventiva do BCE. O certo é que esperamos por uma quinta-feira onde Draghi dê a partida para um novo ciclo económico.

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