Em maio de 2012, a urgência do Hospital Geral (Covões) fechou à noite. Ano e meio mais tarde, em novembro de 2013, fechou também ao fim-de-semana.
Duas décadas e meia depois, Coimbra viveu uma nova “revolução” no setor das urgências hospitalares.
No fundo, o que se fez foi recuperar o que Leonor Beleza já tinha feito, em 1989, mas que o seu sucessor, Arlindo de Carvalho (agora envolvido no caso BPN), tratou de desfazer.
Ainda assim, a reestruturação promovida pelo conselho de administração do CHUC foi mais longe do que o mero fecho da urgência do Hospital Geral (HG) durante a noite e ao fim-de-semana.
No HG, antes de maio de 2012, os episódios de urgência registados durante a noite eram cerca de 40 (e apenas um com pulseira “vermelha”).
Por seu turno, a prática de internamento em macas na urgência do HG estendia-se, em média, por 5,4 dias até ao internamento em enfermaria. Agora, nos HUC, o tempo de espera raramente ultrapassa as 12 horas.
Também em maio de 2012, abriu a escassas centenas de metros dos HUC o hospital privado Idealmed, com atendimento de urgência. Pouco mais de um ano depois abriu, na Baixa, o serviço de urgência da Sanfil.
Em 2013, o surto de gripe sazonal tinha já sido em fevereiro. Por isso, as restrições, no HG, acabaram por não se “cruzar” com “picos de afluência às urgências.
Nos períodos de antes e depois das duas alterações, movimentos de utentes, partidos políticos e autarquias manifestaram-se contra a decisão.
Na mesma linha, também várias organizações profissionais e sindicais do setor da Saúde repudiaram a medida, antecipando ruturas de diferentes naturezas (escassez de pessoal, desmotivação, sobrelotação, falta de equipamento, etc.).
Protestos calados
Um ano depois, quase todos os protestos se calaram. Um dos mais ativos – a Liga dos Amigos do Hospital dos Covões – foi mesmo extinto.
Não obstante, os jornais e as redes sociais têm registado, com regularidade, queixas e denúncias de problemas na urgência. Há mesmo grupos organizados de utentes que criaram páginas na internet.
Na maioria são relatos impressivos e “a quente” de situações anómalas – muito tempo de espera, pouca informação, falta de profissionais para atendimento pronto, etc.
Mas há denúncias mais fundamentadas. Foi o caso, em maio último, de uma alegada recusa do serviço de Queimados em receber um doente transferido de Viseu.
Ganhos e perdas
Sobram dados que importa analisar. Desde logo, os números de acessos à urgência, que revelam que o fecho parcial do HG pouco impacte teve nos HUC.
Ainda no plano do acesso, registo para os doentes da margem sul que agora passar a dispor na urgência de especialidades que não havia antes (dermatologia, queimados, endocrinologia, cirurgia cardiotorácica, etc.)
Quanto às equipas, não foram reduzidas, quer a de apoio para urgência interna no HG quer a que presta serviço nos HUC (que até foi reforçada). Outro ganho foi de produtividade: vejam-se as horas extraordinárias, que decresceram 13%.
Há, porém, um dado que teima em não mudar: o excesso de doentes que não são casos de urgência (menos de 18% são “pulseiras” laranja e vermelho e mais de 20% são mesmo verdes).