Opinião – Separar as águas

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Elísio Estanque

Elísio Estanque

“O momento e a forma da detenção de José Sócrates são questionáveis e refletem um conjunto de contradições, recorrentes, relacionadas com o funcionamento da Justiça e que envolvem, também a comunicação social.

Nesta matéria não há coincidências. Há sempre interesses colaterais que se movimentam na sombra e que procuram influenciar, ou, pelo menos, tirar proveito da forma como a Justiça funciona e dos efeitos da sua intervenção.

Também no plano político não há coincidências. Numa altura de intensíssimo desgaste e de total descredibilização do atual governo, reconhecidos até por alguns setores da direita, a difusão destas notícias e, sobretudo, o seu alastramento ao PS vão, naturalmente, ser aproveitados pela direita para tentar tirar dividendos políticos.

Numa altura em que o PS escolhe um novo líder, que é sufragado por 96 por cento dos militantes, é difícil, pois, acreditar que se trate de uma coincidência.

É que, a serem confirmados os indícios criminais que estão apontados e, mais grave ainda, a ser confirmado um cenário de prisão preventiva, então estamos perante uma machadada que atinge não apenas o cidadão José Sócrates mas toda a sua carreira de dirigente partidário, do PS, e, sobretudo, de governante, em nome do PS.

Não podemos perder de vista que António Costa recupera, de algum modo, o legado político de José Sócrates. Ora, do ponto de vista sociopolítico, a consequência desta assunção tem muito, eu diria que tem quase tudo, a ver com a consumação, ou não, da prisão preventiva de José Sócrates.

A nova liderança do PS tem de saber reagir. António Costa, que teve uma primeira reação de grande prudência, o que a meu ver é correto, tem de conseguir estabelecer uma diferença muito clara entre o que é o legado político dos governos Sócrates e o que, alegadamente, serão ilícitos cometidos por Sócrates.

É que condenar um líder político não é a mesma coisa que condenar todas as suas políticas. E é essa separação de águas que António Costa vai ter de saber fazer.

Por outro lado, para que o PS seja capaz de dar sequência à expetativa de mudança que está criada no país, é também fundamental uma escolha cuidada e depurada das figuras para a liderança do partido.

Do ponto de vista do eleitorado, para além da já referida separação de águas, é importante que o núcleo duro de António Costa (cuja constituição de todo desconheço) não inclua as figuras mais conotadas com o socratismo”.

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