Opinião – Músicos estrangeiros?! Sim! Mas políticos… também!!!!

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Virgílio Caseiro

Virgílio Caseiro

Se é verdade que nos nossos hábitos de vida diária (produtivos, educativos, religiosos ou lúdicos) a música conseguiu ocupar um lugar de realce e de insubstituibilidade, não deixa de ser verdade também que é no campo da educação que ela se me afigura como dimensão quase única de projecção formativa, tendo em si, por inerência, os condimentos indispensáveis para ensinar, instruir, formar e educar, numa caminhada homogénea e constantemente refrescada em aliciantes transformadores e permitindo uma motivação contínua e crescente, colada em torno da construção da auto-imagem, em evolução e valorização, de cada um.

Deixando para trás a enumeração fastidiosa global dos objectivos gerais e específicos da música enquanto veículo educativo, desajustados à abordagem genérica desta crónica, não é contudo despropositado referir o contributo que ela fornece ao desenvolvimento afectivo, cognitivo e motor de cada um, através do trabalho incrementador de múltiplas variáveis, algumas delas quase exclusivamente da competência da área musical, fazendo com que importantes capacidades de discriminação humanas como a audição, a duração temporal, o movimento, a coordenação mental e motora, a leitura e a escrita, o timbre, a forma e também a inteligência, o raciocínio e a memória, como exemplos, possam ganhar funcionalização e operatividade prática.

Por isso foi desde sempre entendida a música como pedra fundamental da carga curricular de qualquer sistema educativo. E se é verdade que pontualmente esta regra foi por vezes ultrapassada pela ignorância legislativa de alguns políticos, em momentos cruciais de obscurantismo monoteísta liderativo, a História se encarregou, e tem vindo a encarregar cada vez mais, de repor a verdade e aferir a sua utilidade.

Vão longe os tempos em que aprender música era uma necessidade de meninas prendadas e entendido como complementarização cultural possível de famílias bem formadas. Os pobres e os destinados às áreas serviçais que se lixassem! E, se a aprendessem, que isso servisse, tão só, para o entretenimento dos senhores ou modo de sobrevivência numa esquina perdida de uma praça qualquer!

Depois vieram os tempos em que se entendia dever haver música no currículo, mas que esta não pudesse interferir na avaliação das verdadeiras disciplinas. Não seria alvo de qualquer classificação quantitativa e mesmo a qualitativa tinha o valor do desdém. “Que culpa tem o miúdo de não ter jeito para a música?”- Quantas vezes ouvi exclamações deste género! Sempre me calei, por entender, de há muito, que a ignorância sempre foi atrevida.

E a música lá ia sobrevivendo à custa da estratégia de objectivos irreais declarados: é importante porque permite que os alunos, ao desenvolveram a audição, sejam melhores nas línguas estrangeira e no português; é importante porque é um óptimo contributo para o desenvolvimento do raciocínio e disso vai beneficiar a matemática, a filosofia, as ciências e a física; é importante porque apura a memória e disso tira partido a história!

Finalmente chegaram os tempos onde foi possível fazer ver aos governantes que a Música vale por si só e funcionaliza capacidades que lhe são exclusivas. A partir deste dia a Música começou, finalmente, a ter uma avaliação escolar quantitativa.

Ela contribui de igual para igual no desenvolvimento cognitivo, embora tenha, de facto, essa riqueza acrescentada de ser interventora, e com força superlativa, na afectividade.

Tantos anos, tanta persistência, para conseguir uma óbvia evidência de séculos! E depois querem contratar estrangeiros para resolver o problema da música! Contratem é estrangeiros para resolver o problema das lideranças políticas e governamentais! “Será que não se enxergam?!”

 

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