Fundador de “O Grito do Povo” diz que crise estudantil de 1969 começou no Porto

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O antifascista Pedro Baptista, fundador de “O Grito do Povo” de oposição ao Estado Novo, conta em livro como os tumultos estudantis do Porto deram o mote aos protestos de 1969 em Coimbra que marcaram o fim do regime.

“Da Foz Velha a ‘O Grito do Povo’” é o título do primeiro livro de memórias de Pedro Baptista, comunista, marxista, leninista, coletivista, maoista, basista e muito mais, que um dia encetou uma luta contra o regime ditatorial a partir do Porto e que lança o primeiro tomo das suas memórias na próxima sexta-feira.

“É absolutamente falso que o Porto tenha tido um papel secundário” nos acontecimentos que levaram à revolução de abril de 1974, defende, convicto, numa entrevista à agência Lusa em que foi narrando, passo a passo, o seu trajeto até dezembro de 1971, data em que, na clandestinidade, lança a primeira edição do “Grito” sob o mote “Abaixo a exploração capitalista”.

Dois anos antes, algures nos primeiros dias de janeiro, participava, enquanto estudante, num plenário no átrio da Faculdade de Ciências, onde hoje é a Reitoria do Porto, aos Leões, que acabou com a polícia a invadir o edifício.

“Naquele dia éramos 300, no dia seguinte éramos quatro ou cinco mil e estava tudo em greve, toda a universidade, com assembleias e contestação nas aulas”, recorda.

Três semanas mais tarde, “talvez um mês, em fins de janeiro de 69”, o movimento estudantil do Porto ocupa a cantina do CDUP, na Faculdade e Letras, “e aí foi duro”.

Em Coimbra, a crise estudantil ficou marcada pelo conflito de abril de 1969, quando o então presidente da Direção-Geral da Associação Académica, Alberto Martins, vê negada a palavra pedida ao Presidente da República, Américo Thomaz.

Mas no Porto, e “logo no início de 1968”, as influências dos “sittings” norte-americanos de protesto contra a guerra do Vietname (em que os estudantes se sentavam no chão até serem retirados pela polícia) já se faziam sentir.

É nesse tempo, até antes da convulsão francesa de maio de 68, que “começam [no Porto] os Comités Vietname”, com a bandeira daquele país a ser hasteada nos Clérigos e o boicote, com direito a “porrada velha”, de uma visita do embaixador norte-americano à universidade,

Mas as convulsões, as tertúlias, reuniões espontâneas já se tinham feito sentir vários anos antes e foi em 1965, quando pela mão de um amigo comunista chega ao Porto a obra de Sartre “Furacão sobre Cuba”, que surgiu no seio estudantil a ideia de “tomar o Gerês, criar lá uma rádio e proclamar Portugal independente”, qual “Sierra Maestra” à portuguesa.

Contava-se até que “os cubanos receberam uma delegação da Juventude Comunista e que lhes disseram para fazerem uma guerrilha no Gerês”, ali ao lado do Xurês galego de onde Fidel Castro era natural.

“E chegamos a fazer instrução, treinos onde depois vêm a ser os chamados Pinhais da Foz. Aquilo eram matas e nós juntávamos lá 300 tipos aos sábados a fazer exercícios”, conta.

Mas se a ideia de tomar o Gerês acabou por se perder, a de fazer uma revolução em Portugal não saiu da cabeça de Pedro Baptista que, entre 1969 e 1970, consegue juntar o movimento estudantil ao operário e, em 71, nasce o Grito.

“Em 1971 isto funde-se na criação de ‘O Grito do Povo’, em torno de um jornal”, nascido de uma geração do fim dos anos 60, marcada pelo pró-China, pelo maoismo, e tantos outros ‘ismos’.

O movimento por detrás de ‘O Grito do Povo’ havia de fundir-se com o ‘Comunista’, gerando-se, progressivamente, a OCMLP (Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa), com implantação do Norte a Santarém.

Cumprem-se em janeiro de 2015 os 40 anos do cerco dos comunistas ao Palácio de Cristal, onde decorria o I Congresso do CDS. Pedro Baptista e a OCMLP estiveram lá, mas isso são já ‘estórias’ da História para o segundo volume.

O primeiro é lançado na próxima sexta-feira, pelas 18:00, no átrio da Câmara Municipal do Porto.

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