Coimbra: uma cidade (quase) fantasma

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Luís Santarino

Luís Santarino

As cidades não precisam de se manter iguais como em outros tempos. Mas valerá a pena perceber porque Coimbra é agora mais parecida com uma cidade fantasma. Não, não é todos os dias… mas quase!
Percebe-se que hoje existem outras centralidades e a malta dispersa-se. É verdade. Mas também é verdade que noutros tempos, fruto de insuficiênca “pilineira” – vem de pilim – também não existiam autoestradas para tudo o que é sítio! Mas agora existem, e, como são a preço acessível, a malta dá um salto a casa.
Ao domingo, pela noite, lá regressa a malta com a roupita lavada, a bucha embrulhada em papel de jornal para se manter quentinha, os bolos e as pataniscas de bacalhau, o presunto embrulhado e papel de prata – ah modernaços, porque dantes era o de celofane!
Tudo arrumadinho, o microondas pronto a funcionar e, mais uns dias, casa aulas e aulas casa, que o papá dá tau-tau se o menino adormece…e regresso na quinta-feira. Semana após semana, mês após mês até à vitória final.
E no jornal da santa terrinha há-de ler-se; formou-se em Direito o filho mais velho da família “Catita”, gente de trabalho que muito se sacrificou. Honra e glória!
Pois é. Mas não é devido às autoestradas – ainda me acusam de estar a fazer a apologia de José Sócrates, o que não desdenharia – que a malta se pira e Coimbra quase desapareceu do mapa. Não.
Porque será que à quinta-feira a malta desaparece?
Uns dizem que Coimbra é pouco apelativa para ficar no fim-de-semana. O “cartola” fechou e sabe-se lá até quando, nos bares da Sá da Bandeira ou há trolitada ou tiros – às vezes até deixam um gajo coxo – os cafés de referência são poucos e a seleção é cuidada, não vá alguém discordar, os “trabalhos” para os vários cursos do ensino superior fazem-se com “uma perna às costas” e, já agora, muitas aulas acabarem à quinta-feira contribuem de forma significativa para o abandono da vida associativa.
Hoje encara-se a universidade como uma mera passagem de um estado para outro, sem que, nem durante nem pelo meio aconteça algo de relevante. A prática desportiva é inexistente, a militância cultural é pouca e curta e, os nossos alunos passam por aqui três anos com o objectivo de se verem livres disto…e o mais depressa possível! Aliás, verem-se livres disto, não só de Coimbra, mas sobretudo do País, para ajudar aos números do desemprego.
O velho Mandarim transformado em restaurante de carne manhosa também fechou. Porque não abrir por aquelas bandas uma tasca tipo “Mija Cão” ou “Mija Gato”, a servir umas iscas de cebolada e umas “sandes de carapau de um dia para o outro”? Até podiam ser do mesmo dia! Ah, já me esquecia. Não pode ser. A ASAE não deixa e fechava logo a espelunca. Mas que saberia bem o petisco lá isso sabia! Mas também, para quem comeu sopa de serapilheira e feijão vermelho pouca coisa lhe iria fazer mal… ou pior! Aliás, se estamos aqui de férias e vamos direitinhos para o “jardim dos ciprestes”, que me adianta andar a armar em parvo?
Pois é. Coimbra começa a ficar decrépita. A culpa, já cá faltava a culpa, é de todos nós e a dividir não em partes iguais, porque não se pode tratar por igual o que é diferente, mas é mesmo de todos. Porque na hora de decidir, temos sempre um instinto natural para a asneira.
Fica o desafio. Mude-se o que tiver de se mudar. Porque Coimbra merece.

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