Para Ensinar basta Saber e lá estar.
Para Instruir tens que Ensinar e ouvir.
Para Formar tens que Instruir e moldar.
Para Educar tens que Formar e… Amar!
Calhou-me hoje a vez de falar numa das temáticas que mais anos da minha vida me tem ocupado e que apesar disso mais me inibe e me rouba as palavras: a Docência.
Não vou ser diacrónico em relação ao papel docente nem à evolução do sistema educativo. Vou tão somente localizar-me neste tempo e agora e tentar encontrar algumas linhas de coerência entre a minha experiência profissional de 45 anos, a Música, a Sociedade e os Alunos.
Não pode deixar de ser referida a actual situação bizarra das nossas escolas, seja na música seja nas outras disciplinas, onde, por força das circunstâncias se “manufactura” a “matéria prima” mais preciosa que temos: os nossos filhos. E se é verdade que para os outros aparelhos de produção mercantil que temos todos os gestores exigem aos seus operários, habilitação, competência e desempenho, de forma a que a rentabilização produtiva seja competitiva e colocável, neste nosso sector, se calhar por a “matéria prima” ser gratuita e infindável, quase nada disto se exige.
Por outro lado, aos diferentes empenhos disponibilizados pelos docentes na sua função, socialmente se lhes responde de forma única (contrariando a teoria maioritária determinada pelos resultados eleitorais quadrienais!) apelando-lhes para o acréscimo de remuneração moral e ética!
Deste binómio decorre que, a curto prazo, por um lado os alunos se capacitem do pouco que valem, de facto, neste palco palavroso da acção, onde se apregoa a Justiça para se acabar por fazer o que o Direito permite; por outro, os docentes se nivelem qualitativamente por baixo, normalizando, desta forma, a remuneração a que têm direito.
A qualidade, nesta micro-sociedade docente, não é, nem nunca foi premiada. Ficam assim uma meia dúzia de crentes, que, incapazes de se tornarem lúcidos, continuam a ser remunerados em recompensa moral, apesar de saberem que a cotação desta moeda não tem nem terá qualquer valor de troca na mercearia, no hipermercado, nas bombas de gasolina, na compra dos próprios livros, etc..
No campo do ensino da música tudo isto é também obviamente verdade.
É por isso que, numa altura da nossa evolução social, que aos docentes deveria ser pedido, de facto e não de discurso teórico, um desempenho projectado nas mais profundas consequências educativas, nos temos que quedar e ficar satisfeitos se deles se poder contar com uma séria disponibilidade para Instruir.
Como todos sabemos, Instruir não passa de Ensinar com consequência, ou seja, debitar o conjunto de conhecimentos programáticos oficial e montar, de imediato, um sistema eficaz de “feedback” que nos permita quantificar o que ficou retido, com certa perenidade, no sujeito da nossa acção.
Por seu lado Educar é tudo o que atrás se disse , mas revigorado por estes dois factos únicos: é dar aos outros a riqueza que fomos acumulando dentro de nós, sentido o prazer da manipulação desta forma de capital que nos permite, à medida que o damos, nos sentirmos e ficarmos, realmente, mais ricos; é comungar com os outros uma aposta e uma convicção e disponibilizarmo-nos para ela com o adulto saber paternal do valor do Amor. Para Educar é preciso ser capaz e estar disponível para amar! Amarmo-nos, amar o que sabemos, amar os “operários”, por fim, amar o ideal social, ainda que quimérico, onde tudo isto vai ser eficaz.
Fechamos, ao chegar aqui, um ciclo, possivelmente inconciliável. Está já longe a ideia romântica que só se ama e cria na contrariedade e adversidade. Hoje, os padrões não são melhores nem piores que os padrões de outros tempos, mas são evidentemente diferentes. Criemos forças e disponibilidade para sermos coerentes!
Nesse dia vamos ter verdadeiros músicos, verdadeiros homens tridimensionais e vamos viver fraternalmente felizes.
Desculpem-me hoje este sonho. Que os meus filhos não parem também de sonhar. Um dia isto será verdade!
Comunicação feita no dia da abertura da ESEC