No próximo dia 19 o Papa Francisco proclamará beato o antigo cardeal Montini ( 1897-1978 ), depois Pontífice Paulo VI ( 1963 ). Sucedeu a João XXIII a ele se devendo a conclusão do Concílio Vaticano II. Como afirmou na audiência geral de 7 de Maio de 1969: “Entendido no seu genuíno sentido podemos fazer nosso o programa de uma contínua reforma da Igreja: “Ecclesia sempre reformanda””.
Dotado de singulares dotes intelectuais e de uma assinalável força anímica empenhou-se na renovação litúrgica, instituiu o Sínodo dos bispos em ordem a criar uma verdadeira colegialidade, valorizou as conferências episcopais, procedeu à revisão do Código de direito canónico, realizou a reforma da cúria Romana, alargou o colégio cardinalício; a fim de dar aos leigos criou o Pontifício Conselho dos Leigos e a Pontifícia Comissão “Iustitia et Pax”, etc..
Quanto não havia a dizer desta grande figura de Papa e de homem com rasgados horizontes para uma solução dos problemas que continuam a afectar profundamente o nosso tempo.
O diálogo foi o motor do pontificado de Montini a nível intra-eclesial, ecuménico e inter-religioso e com o mundo. Em 1967, confirmando a existência do Secretariado para a União dos cristãos que fora criado por João XXIII em 1960, estendeu as suas competências às relações com o hebraísmo. Nunca se poderá esquecer a encíclica “Populorum progressio” ( 1967 ), o discurso na ONU ( 1965 ) e a carta apostólica “Octogesima adveniens” ( 1971 ). Paulo VI foi o primeiro papa a viajar de avião visitando os cinco continentes, desde a Terra Santa, Bombaim, Fátima, Istambul, Bogotá, Genebra Uganda, Ásia Oriental, Oceânia e Austrália, além de várias cidades italianas.
A “Populorum progressio denuncia o agravamento do desequilíbrio entre países ricos, critica o neocolonialismo e afirma o direito de todos os povos ao bem-estar. A encíclica propõe a criação um grande Fundo mundial, sustentado por uma parte da verba das despesas militares, para vir em auxílio dos mais deserdados.
Fala da cooperação entre os povos e do problema dos países em desenvolvimento e texto denuncia o agravamento do desequilíbrio entre países ricos, critica o neocolonialismo e afirma o direito de todos os povos ao bem-estar. Propõe a criação um grande Fundo mundial, sustentado por uma parte da verba das despesas militares, para vir em auxílio dos mais deserdados.
O texto critica tanto o ‘liberalismo sem freio que conduziu ao “imperialismo internacional do dinheiro”, como a colectivização integral e a planificação arbitrária, que priva os homens da liberdade e dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Escreveu que a terra foi dada a todos e não apenas aos ricos, o que quer dizer que a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário.
Numa palavra, “o direito de propriedade nunca deve exercer-se em detrimento do bem comum, segundo a doutrina tradicional dos Padres da Igreja e dos grandes teólogos”. Surgindo algum conflito “entre os direitos privados e adquiridos e as exigências comunitárias primordiais”, é ao poder público que pertence “resolvê-lo, com a participação activa das pessoas e dos grupos sociais”. Como era de esperar as suas palavras provocaram reacções muito violentas em determinados sectores, como hoje sucede com o ideário do Papa Francisco.
Como escreveu recentemente um comentador: “Ainda será necessário muito tempo para apreciar em toda a sua dimensão a personalidade e a obra de Montini, para além dos limites humanos próprios de qualquer papa, os quais servem para fazer realçar a presença e a obra do Espírito Santo”. E prossegue: “Uma coisa, porém, é certa: Paulo VI foi o primeiro timoneiro do pós-concílio. Deu um grande contributo à elaboração da “rota” traçada pelo Vaticano II para uma segura navegação da Igreja e da humanidade; e com a santidade de vida e as qualidades extraordinárias de que era dotado foi um instrumento eficaz nas mãos de Deus para o progresso do seu Reino numa das épocas mais exigentes da história”.