Opinião – Política espectáculo ou democracia?

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Francisco Queirós

Francisco Queirós

“São todos iguais! Apanham-se no poleiro e fazem todos o mesmo! Não me interessa a política. Quero lá saber…”. Estas e muitas frases do mesmo tipo abundam em comentários de rua sobre a vida política e os “políticos”.

“Corruptos e todos iguais”. Estas opiniões são sem dúvida em número crescente e assustador. Revelam-se no enorme absentismo nos actos eleitorais e na demissão de muitos e muitos milhares de cidadãos em relação à “política”, vista como uma espécie de arte do mal, um conjunto de truques de como obter benefícios pessoais, tramando a maioria dos concidadãos.

A política entendida como o governo da polis, da cidade, da vida de todos e do seu destino, parece ser cada vez mais uma concepção de minorias. Tais concepções pouco abonatórias para a democracia têm causas. Estas concepções não surgem inocentemente.

Desde logo, resultam das más políticas efectivamente sentidas por largas camadas da população que ao longo de décadas não conheceram políticas que lhes fossem favoráveis. Assim, todos são iguais, todos os que governaram nos últimos anos e que compreensivelmente serão responsáveis pelas más condições das suas vidas.

O governo e todos os diversos órgãos de poder e de soberania são-lhes estranhos e adversos pois em nada correspondem às suas expectativas e anseios.

Tais concepções interessam contudo em primeiro lugar a muitos dos que de facto detêm o poder. Mais vale uma maioria alheada a outra que se proponha deter o poder.

A crítica veemente feita a todos os políticos serve de argumento para a proposta de grandes e aparentemente inovadoras reformas do sistema político. Um sistema menos esbanjador, com muito menos representantes eleitos.

Pois para que servem 230 deputados se metade fazia o mesmo? Deste modo escondendo o real propósito de colocar fora dos órgãos de poder os partidos mais pequenos num parlamento mais reduzido. Sugerem um sistema onde os eleitores se sentissem próximos dos eleitos, constituindo-se círculos uninominais.

Quando de facto, desse modo se promove o populismo, potencia-se a eleição de candidatos mediáticos ou mediatizados, figurões da tv, transforma-se a vida política num espectáculo, protagonizado por cavaleiros andantes, comentadores justiceiros!

Como se não fosse já possível a proximidade entre eleitos e os seus eleitores. Os deputados do PCP dedicam o dia das segundas-feiras para contactos com as populações do seu distrito.

Aliás, o PCP vai mais longe e mesmo em círculos eleitorais onde não elegeu deputados, há sempre um deputado deste partido com a tarefa de auscultar as populações locais. Regularmente, a deputada Rita Rato, eleita em Lisboa, visita o distrito de Coimbra, contacta empresas, associações, trabalhadores e coloca as suas preocupações na Assembleia da República.

Dentro dessa engenharia pseudo democratizadora, há ainda os que procuram envolver os cidadãos na escolha do primeiro-ministro, através de “primárias”. Como se houvesse eleições para primeiro-ministro em Portugal e este não fosse nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.

Enquanto enxovalhavam o regime político constitucional, governam de costas e contra o povo que mantêm afastado. Depois, reconhecendo o alheamento de parte das populações, procuram reformar o sistema, se possível colocando o Zé a assistir a um “reality show”, caladinho, em modo “não mexe e não respira”, convencido de que é actor ou protagonista da sua própria vida ou dos destinos colectivos.

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