Opinião – Caridade e a Ciência

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Tenho tentado manter a minha capacidade financeira, tanto quanto possível intacta, para que possa manter a minha produção de História da Ciência, sabendo que esta é a forma mais eficaz de fazer caridade. Muitos outros também o fazem, aumentando a capacidade de reduzir a dor aos que sofrem e entre as descobertas que continuam a ocorrer está a que é a feita com o estudo científico de vírus, como acontece no combate ao Ebola.

É o que custa muito a fazer e ainda mais quando existem obstáculos mais difíceis de ultrapassar do que a falta de dinheiro. De facto, um passeio numa qualquer feira das velharias permite encontrar livros, que nos contam como a bacteriologia em 1901 permitiu vencer epidemias através de experiências científicas, que tinham começado anos antes, como explica o Teixeira de Queirós, um médico que tinha assistido à emergência e vitória das teorias de Pasteur em Coimbra.

Parte daí para uma história sobre caridade e ciência, onde nos conta uma cura, que se inicia com a explicação da cura de uma personagem, que começa mal e assim: “Lá desaparecia a razão do nome adquirido na boémia filosófica de Coimbra e pelo qual era conhecido em Lisboa, quando o viam atravessar as ruas, com o seu grande corpo aos solavancos, e as abas do casacão ao vento.” .

Mas, tudo acaba bem e com casamentos entre os diversos personagens do romance.

Não conta, por isso não convir numa história que acaba bem, a fuga de Ricardo Jorge do Porto para não ser vítima das perseguições que lhe faziam na Cidade Invicta. Nem sequer conta a morte de Luís Câmara Pestana, que tentou até ao fim controlar a peste.

Estavam nessa altura no Porto alguns membros do Instituto Pasteur que observavam como aí nada de jeito se fazia para debelar, o que era vergonhoso para o país. Não contou também os obstáculos que Augusto Rocha teve de ultrapassar para montar em Coimbra um modesto laboratório de bacteriologia. Muito menos ia dizer quem lhos criou e impôs que futuras epidemias ocorressem.

Muito menos, ia contar como Augusto Rocha tinha feito a defesa de uns estudantes que puseram em causa um mau professor de Finanças e o ensino que fazia, ocasionando a persistência das nossas endémicas crises financeiras, comprovando que quaisquer restrições ao conhecimento também matam porque impedem que tenhamos comportamentos sociais e pessoais adequados.

Agora para ultrapassar estas falhas de conhecimento, temos o Google que permite juntar informações dispersas, sendo algumas até habilmente ocultadas para nos levar ao engano. E isso acontece agora com o caso BES, onde alguns personagens se mantêm embora a narrativa se vá alterando.

É trabalho do Povo Português ver isso e esclarecer-se.

Só assim sairá desta crise endémica.

( 1 ) Teixeira de Queirós – A Caridade em Lisboa, Segunda Parte, A Dor, Parceria António Maria Pereira, Maria Pereira, Lisboa, 1901, pp. 136-137.

 

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