A análise macro e micro da história da Educação mostra, se quisermos, as razões da sua (in)eficácia e falhas. Nela nada pode ser circunscrito ao anedótico do poder que permitia em 1914, “em Dezembro, na Escola Industrial e Comercial Brotero, em Coimbra, deu-se o caso de um professor Manuel de Melo Nunes Geraldes, tomar posse, por procuração, da cadeira de Desenho Mecânico. Logo depois, pediu e obteve uma licença que lhe permitia ausentar-se até ao final de junho. Como não foi contratado mais nenhum substituto até o fim do ano, temia-se que os muitos alunos matriculados ficassem sem ter aulas”1.
De facto, era tradição da família Nunes Geraldes fugir a sete pés do cumprimento dos seus deveres docentes, como podemos verificar na correspondência da Reitoria da Universidade de Coimbra para o Catedrático de Economia Política Manuel Nunes Geraldes no que, parece, um filho continuava como mau exemplo em 1914.
Por estranho que pareça, 90 anos depois, a Catedrática Maria de Lurdes Rodrigues pegou no absentismo docente, para desembainhar a espada contra estes infiéis e vai de os obrigar a ter uma componente não letiva, para a qual não tinha ideias de jeito. Teve a ajudá-la uma parte da classe docente que obedeceu acriticamente, provavelmente gente do partido que sustentava o seu governo. Continuou assim de modo violento e arrogante o descalabro do sistema educativo.
Era seu objetivo único reduzir as possibilidades de progressão na carreira dos docentes. Viu-se que nada mais a preocupava. Queria apenas poupar nos dedos e gastar a esmo nas obras faraónicas da Parque-Escolar, que deixou também atrás de si um rasto de desorganização nos arquivos escolares, impedindo a pesquisa histórica como tenho verificado.
Temos agora um ministro que descobriu que há professores formados que dão erros ortográficos e escrevem mal e, vai de fazer-lhes um exame, para os mandar para as urtigas. Nem sequer se questionou como passaram os crivos da avaliação durante n anos. Contudo, quem estuda um pouco de história da educação ou houve professores mais antigos sabe que professores mal preparados sempre os houve.
Escreveu-o Alexandre Barbas em O Raio, ano IX, Covilhã, 7 de Fevereiro de 1932, n.º 484, pág. 1, colunas 2 a 4. Ouvi-o eu da boca de um colega sénior em 1975 quando comecei a dar aulas. Também sabemos que alguns dos fazedores de leis também mal sabem pensar e muito menos escrever, como a Imprensa e o Facebook têm mostrado quanto baste para bom entendedor. De facto, têm prejudicado o ensino, e aqui também o superior com a redução dos tempos dos cursos que passaram de 5 anos para três.
Não podem por isso admirar-se com os resultados.
Há só que perguntar agora aos ministros da educação ainda vivos que tivemos desde finais de 1975, o que fizeram para debelar este mal e ajudar os professores competentes a melhorar os seus desempenhos.
E nada dirão.
Prevejo.
1 Ricardo Marques – 1914 – Portugal no ano da Grande Guerra, Oficina do Livro, Alfragide, 2014, p. 142
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