Opinião – O que vai acontecer às notícias? (III)

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Bruno Paixão

Bruno Paixão

Aquela que augurava ser a grande virtude dos media, chegar às grandes massas, parece ser hoje, em parte, um dos seus óbices, pois as novas tecnologias permitem servir os indivíduos naquilo que são os seus interesses específicos, deixando de tratá-los indiferenciadamente. O que implica um reposicionamento e uma mudança de atitude por parte das empresas de informação.

Já lá vão os tempos áureos em que as empresas de media controlavam todos os processos, desde a elaboração e a distribuição de notícias, até ao preço da publicidade e ao preço de venda ao público. Mas este monopólio ruiu, dando lugar à oportunidade de cada um de nós ter no computador, no telemóvel, no tablet, ou em qualquer dispositivo ainda por inventar, a possibilidade de reunir e distribuir informação. O ecossistema das notícias, como lhe chama Jeff Jarvis, professor na City University of New York, mudou!

A internet, sendo um vastíssimo sistema de comunicação e de promoção de interrelações, pode e deve ter um papel crucial na procura de soluções para os problemas que enfrentam os media. Para tal, estes teriam muito a lucrar se lograssem posicionar-se enquanto plataformas tecnológicas apelativas, disponibilizando-as à participação dos cidadãos, entre eles bloggers e outros agentes com intervenção e vocação de partilha. Aliás, “partilha” é mesmo a palavra-chave da era digital, onde as provas estão à vista em exemplos como Youtube, Facebook, Google+, Instagram, Tumblr, Twitter…

O ecossistema está ainda muito desorganizado, pois a tecnologia surge como um tufão, que tudo devasta antes de dar lugar a novas vidas. Os vários agentes devem começar por ajudar-se entre si, colaborando, para que juntos valham mais do que individualmente. Não ignoro que este é um procedimento contranatura para o jornalista, habituado a trabalhar num bunker quase secreto, num ambiente pouco propenso a pensar de forma colaborativa. Contudo, a colaboração é um imperativo para a sobrevivência.

Um jornalista meu amigo contou-me que para fazer a cobertura de um acidente numa praia algarvia, há uns anos, o carro de exterior da RTP demorava cerca de três horas até chegar ao local e iniciar a transmissão. Hoje, qualquer pessoa com telemóvel pode filmar os acontecimentos e instantaneamente colocá-los online. Se as plataformas digitais dos órgãos de informação forem atrativas, nada impede que estes vídeo-amadores coloquem lá as suas imagens, podendo inclusivamente partilhar os lucros publicitários.

É insensato esperar que os órgãos de informação cubram a totalidade dos temas. Daí que faça sentido a parceria entre vários intervenientes, trazendo mais público e maior valor, gerando um círculo virtuoso. Os membros de um ecossistema podem mesmo, como nota Jarvis, trabalhar em conjunto de forma mais direta, ao partilharem conteúdos, público-alvo e as melhores práticas.

É claro que ninguém está ao comando deste ecossistema. Por isso as universidades e fundações têm aqui uma oportunidade para liderar o processo de revitalização do setor (gostaria que o Reitor João Gabriel Silva e as nossas incubadoras lessem isto), impulsionando ideias e parcerias, conjuntamente com as entidades gestoras dos fundos comunitários, formando nas áreas das novas tecnologias e na gestão de startups inovadoras os jornalistas que por todo o País têm sido despedidos.

Formando também os cidadãos ativos na blogosfera para o manuseamento ético e deontológico da informação. E apoiando os órgãos de informação na construção de plataformas digitais inovadoras. Tudo isto concorre para um só objetivo: um ecossistema de notícias mais eficaz e sustentável para servir a sociedade.

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